O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, avisou, esta terça-feira, que qualquer acordo de paz alcançado com a Rússia, incluindo quaisquer mudanças territoriais no país, terá de ser apoiado pela população através da realização de um referendo.
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"Se estiverem em causa mudanças [territoriais], a única solução será convocar um referendo. Serão as pessoas que irão decidir a questão", afirmou Zelensky, em entrevista às emissoras checa CT24, francesa France Télévision e ucraniana NSTU. A Ucrânia "não irá aceitar qualquer ultimato da Rússia", alertou.
Na entrevista, transmitida na segunda-feira à noite e citada esta terça-feira por diversos meios de comunicação, Zelensky considerou que um possível encontro com o homólogo russo, Vladimir Putin, deve ser precedido de um consenso na Ucrânia.
Uma reunião dos dois líderes, sobre a qual se especula há alguns dias, será fundamental, segundo o chefe de Estado ucraniano, para descobrir as verdadeiras intenções da Rússia e saber "do que é capaz ou o que pretende alcançar para parar esta guerra".
Zelensky insistiu várias vezes, durante a entrevista, na necessidade de se realizar "uma reunião" entre os dois chefes de Estado para que termine o conflito na Ucrânia.
"Acredito que, sem esta reunião, é impossível entender completamente os objetivos russos", referiu, lembrando que já pediu várias vezes ao Kremlin que aceite realizar esse encontro.
"Estou disposto a ceder o que quer que seja, mas só se o meu povo concordar. Nada se passará de outra forma. Finalmente, alcançámos a unidade e não quero, de forma alguma, uma divisão do Estado", considerou.
"O povo terá de decidir sobre este tipo de compromissos. E esses compromissos dependem das conversas" com a Rússia, acrescentou Zelensky.
O Presidente ucraniano admitiu, no entanto, que as cicatrizes deste conflito irão perdurar, afirmando que "nem a História ou o Estado perdoarão a perda de pessoas" e nem "as gerações futuras perdoarão a perda de território".
Uma das reivindicações de Moscovo neste conflito é o reconhecimento da sua soberania sobre a península da Crimeia, anexada desde 2014, e da autodeterminação dos territórios rebeldes de Donetsk e Lugansk.
"Acredito que as questões da Crimeia [anexada por Moscovo em 2014] e de Donbass [região no leste da Ucrânia onde separatistas pró-Rússia proclamaram duas 'repúblicas'] são histórias muito difícil para todos", admitiu ainda o chefe do Estado ucraniano na entrevista.
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"Agora, para encontrar uma solução, temos de dar um primeiro passo em direção a garantias de segurança e de cessar-fogo", avisou, referindo estar pronto para, logo numa primeira reunião com o Presidente da Rússia, "levantar essas questões, são muito relevantes e importantes para nós".
Na entrevista, Zelensky também se referiu à questão da adesão à NATO, dando a entender que se resignou com a ideia de não poder fazer parte da organização de defesa da Europa.
"Todos nós já entendemos que não fomos aceites [na NATO], porque eles [os Estados-membros] têm medo da Rússia. Só isso. E temos de nos acalmar e dizer: 'Ok, [teremos de aceitar ter] outras garantias de segurança'", disse.
"Há países da NATO que querem ser garantes da segurança [da Ucrânia]" e "estão prontos para fazer tudo o que a Aliança [Atlântica] faria se fôssemos membros da organização", concluiu Zelensky.
Moscovo exigiu uma garantia de que a Ucrânia nunca entrará na NATO, organização criada para proteger a Europa da ameaça da URSS no início da Guerra Fria e que gradualmente se expandiu para as fronteiras da Rússia.