Além do valor geográfico e económico que teria uma vitória da Rússia em Mariupol, o sucesso da invasão naquela cidade serviria de bandeira para a propaganda do Kremlin. Os ucranianos, ainda que sem água e eletricidade, continuam a lutar pela defesa da cidade portuária, sitiada pelas tropas russas.
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Vencer a batalha em Mariupol significaria, para a Rússia, conquistar uma ferramenta estratégica determinante no progresso da invasão na Ucrânia. Além de ser uma grande cidade portuária e uma base para as forças armadas ucranianas, uma eventual vitória permitiria às tropas russas estabelecer um corredor terrestre entre Donbass e a Crimeia, território russo desde 2014. Além do benefício económico, conquistar Mariupol serviria ainda de bandeira para a propaganda do Kremlin.
Seria também a primeira grande cidade a ser tomada pelos russos depois de Kherson, estrategicamente muito menos importante e que mal foi defendida.
A visão de Putin da "Nova Rússia"
A cidade não só está em território reivindicado pela chamada República Popular de Donetsk, uma área reconhecida pela Rússia três dias antes da invasão a 24 de fevereiro, como também faz parte da visão de Vladimir Putin da "Novorossiya" (Nova Rússia), que se estende pelo leste e sul da Ucrânia, ao longo da costa do Mar Negro e que é vista por Putin como "território historicamente russo".
Também para a propaganda do Kremlin, que descreve a Ucrânia como um país governado pelos nazis e vê, por isso, esta guerra, como uma "desnazificação", ocupar Mariupol seria uma grande vitória. Isto porque, a cidade tem servido como base do batalhão Azov, uma antiga unidade paramilitar com raízes em grupos de extrema-direita e neonazis. Trata-se da menor fração da guarda nacional da Ucrânia, mas a propaganda russa afirma que foram eles os responsáveis pela morte de civis e destruição em Mariupol.
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Um golpe para a economia ucraniana
À vantagem estratégica, junta-se o benefício económico: Mariupol é um centro metalúrgico de siderurgia, produção de máquinas pesadas e reparação naval. É lá também que estão instaladas as maiores empresas de siderurgia e mineração do Metinvest, o principal grupo metalúrgico da Ucrânia. Azovstal, uma das maiores empresas de laminação de aço no país, foi alvo de bombardeamentos russos esta semana, recorda o jornal britânico "The Guardian".
Com o maior porto comercial do Mar de Azov, Mariupol é a principal porta para as exportações da Ucrânia: cereais, ferro, aço e maquinaria. Em 2021, os principais destinos das exportações ucranianas do porto de Mariupol foram países da Europa e do Oriente Médio, como Itália, Líbano e Turquia.
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Efeito dissuasor das tropas de Zelensky
Para a Ucrânia, perder Mariupol seria um enorme golpe para o que resta da economia. Até porque a cidade está pressionada, desde a anexação da Crimeia por Moscovo em 2014, pelas forças russas daquela península e pelos separatistas pró-Kremlin nas autodeclaradas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.
O golpe teria também um efeito de dissuasão das tropas de Volodymyr Zelensky. "Mariupol resistiu ferozmente - mas reparem no custo. A cidade está dizimada, grande parte em ruínas. Ficará na história ao lado de Grozny e Aleppo, cidades que continuaram a ser bombardeadas pela Rússia até a submissão, reduzindo-as a escombros. A mensagem para outras cidades ucranianas é dura - se optarem por resistir como Mariupol fez, podem contar com o mesmo destino", escreve a BBC.
"Os russos não podiam entrar em Mariupol", diz o ex-general do Exército britânico Richard Barrons, à BBC. "Como não podiam entrar com os tanques, transformaram a cidade em escombros. E é isso que devemos esperar ver em qualquer outro lugar que realmente importe para eles."