Os países que participam na conferência sobre a mudança climática da ONU (COP27) prosseguirão com as negociações até sábado (19), superando a data oficial de encerramento que era esta sexta-feira, devido à falta de acordo sobre financiamento, em particular a criação de um fundo de perdas e danos para as nações mais afetadas.
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"Continuo determinado a encerrar esta conferência amanhã (sábado), de maneira ordenada", declarou o chanceler egípcio e presidente da COP27, Sameh Shoukry, aos representantes de quase 200 delegações presentes na cimeira do clima.
Compensar os países que emitem menos gases com efeito de estufa, mas que sofrem as consequências de fenómenos meteorológicos extremos, é uma antiga aspiração dos países mais vulneráveis.
Pela primeira vez em 30 anos, a proposta está perto de ser aprovada. As negociações aceleraram após a apresentação de uma iniciativa da União Europeia (UE), na quinta-feira.
Mas o rascunho do texto final da COP27, de dez páginas, ainda contém muitas dúvidas, como é comum nas conferências do clima da ONU.
O chanceler egípcio expressou preocupação com a quantidade de temas pendentes relacionadas com o "financiamento, mitigação (das emissões de gases com efeito de estufa), perdas e danos, todas interligadas".
"Faço um apelo às partes para trabalharem juntas para resolver estas questões pendentes o mais rápido possível", enfatizou Sameh Shoukry.
"A última oferta"
Determinar quais países poderiam receber a ajuda de um fundo de compensação por perdas e danos das alterações climáticas, e quem deve contribuir, tem sido objeto de negociações árduas.
A UE propôs a criação de um "Fundo de Resposta" para os países mais vulneráveis. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, pediu uma "ampliação da base de doadores", uma referência à China, o principal emissor de gases poluentes e segunda maior potência económica do planeta.
O representante chinês na sessão plenária, Zhao Yingmin, limitou-se a pedir que o Acordo de Paris "não seja reescrito".
O acordo histórico de 2015 estabeleceu as bases do atual compromisso contra a mudança climática, mas recordou que a responsabilidade é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base no seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.
Timmermans também pediu que, em troca do fundo, todos os países reforcem as medidas para reduzir as emissões de gases.
Apenas 30 países apresentaram novas metas de redução de emissões em Sharm el-Sheikh, apesar do apelo por este passo na COP anterior, organizada no ano passado em Glasgow.
Esta proposta de fundo "é a última oferta" da UE, reiterou Timmermans à imprensa nesta sexta-feira.
"Temos que avançar com o trabalho sobre perdas e danos aqui, nesta COP", pediu o representante norueguês, Espen Barth Eide.
Ao mesmo tempo, "temos de confirmar novamente a promessa" de manter o aquecimento global no máximo de +1,5ºC, lembrou, o que significa reduzir as emissões pela metade até 2030, segundo os cientistas.
"Trata-se de colocar a vulnerabilidade (às mudanças climáticas) no centro do debate", insistiu a ministra paquistanesa de Mudanças Climáticas, Sherry Rehman, que representa o maior grupo negociador (G77, com 134 países).
Promessas não cumpridas
Entre os países em desenvolvimento há uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas do passado.
Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que desembolsariam a partir de 2020 a quantia de 100 mil milhões de dólares por ano para ajudar na adaptação dos países pobres às mudanças climáticas e na redução das emissões, ao mesmo tempo que iniciam a transição energética.
O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recordou na quinta-feira, na visita à COP27, que esta quantia ainda não foi distribuída em sua totalidade. E esses 100 mil milhões devem ser aumentados, a princípio, a partir de 2025.
O governo dos Estados Unidos, que não se manifestou na sessão plenária desta sexta-feira, defende o aumento dos compromissos, mas até agora rejeitou a criação de um novo mecanismo financeiro.
O silêncio norte-americano é "ensurdecedor" na reta final da COP27, comentou Pretty Bhandari, analista do World Resources Institute.