Manuel, 72 anos, é uma das seis vítimas do ataque perpetrado por Abdalmasih H., na quinta-feira, num parque infantil de Annecy, em França. O português foi esfaqueado duas vezes no pescoço e depois atingido acidentalmente a tiro pela polícia.
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Um dos adultos feridos no ataque de quinta-feira a um parque infantil, em Annecy, foi identificado pelo canal francês TF1 como sendo um português de 72 anos. O homem, que o JN sabe tratar-se de Manuel Pontes, vive perto do local do ataque, foi atingido duas vezes no pescoço pelo agressor e, mais tarde, ainda acabou a ser baleado acidentalmente pela polícia francesa.
Foi transportado para o Centro Hospitalar Universitário de Grenoble e, de acordo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, está fora de perigo, apesar de ainda estar internado devido aos graves ferimentos que sofreu.
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O Ministério de João Gomes Cravinho agradeceu ainda o "ato de coragem e bravura" do cidadão português, que tentou impedir a fuga do atacante. "Através do Consulado-Geral de Portugal em Lyon, está a ser feito todo o acompanhamento da situação, junto das autoridades locais e do hospital, bem como prestado todo o apoio necessário a este cidadão", acrescenta a nota.
Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar a acompanhar o estado de saúde do português. "Está estável, felizmente", afirmou, em declarações aos jornalistas, enquanto bebia um copo de vinho tinto num restaurante em Peso da Régua. O chefe de Estado disse ter tido conhecimento do caso durante a viagem de avião entre a África do Sul e Portugal, que este ano partilham as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Ao todo seis pessoas ficaram feridas, entre elas quatro crianças e duas delas continuam a lutar pela vida. "Há ainda duas crianças consideradas em estado crítico", disse o porta-voz do Governo, Olivier Veran, numa entrevista aos meios de comunicação franceses, acrescentando que as crianças foram submetidas a "intervenções cirúrgicas". Três dos quatro menores feridos estão hospitalizados, segundo aquilo que conseguiu apurar um jornalista da agência France-Presse (AFP).
As vítimas foram identificadas como sendo: Enio, um menino de dois anos, a sua prima Alba, também de dois anos. Ettie, de nacionalidade britânica e com três anos, e um menino holandês chamado Peter, de 22 meses.
O outro adulto ferido é um francês de 78 anos, chamado Yusuf, que ficou apenas com ferimentos leves.
Motivação terrorista descartada
As autoridades francesas estão a investigar as motivações de Abdalmasih H., responsável pelo crime, mas não há indícios de que se tenha tratado de um ataque terrorista. "Na forma como está, não há elementos que nos levem a crer que haja uma motivação terrorista", disse a procuradora Line Bonnet-Mathis, em conferência de imprensa. Durante o ataque, agressor gritou em inglês "em nome de Jesus" e tinha com ele uma cruz.
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O refugiado sírio, de 31 anos, que obteve asilo na Suécia em 2013 e se tinha mudado para França no final de 2022, não tem cadastro, nem "antecedentes psiquiátricos identificados". E, após exames médicos, sabe-se que também não estava sob o efeito de álcool ou drogas.
Abdalmasih H. foi casado com uma mulher sueca e teve ainda uma filha fruto da união durante os dez anos que viveu no pais escandinavo. Em entrevista à AFP, a ex-mulher contou que ele foi embora da Suécia porque não conseguiu que o pedido de cidadania fosse aprovado. A mãe do agressor, que vive nos Estados Unidos há dez anos, afirmou estar em "choque" com o ataque, considerando que o filho "sofre de uma grave depressão".
"Ele não me disse nada. Foi minha nora quem me disse", detalhou em conversa com a France-Presse. "Ela dizia que ele nunca estava bem, sempre deprimido, com pensamentos maus, não queria sair de casa, nem queria trabalhar...".
O motivo do ataque permanece para já como o maior mistério deste crime que chocou a nação francesa. Mas a teoria de que pode ter sido uma retaliação perante a recusa do pedido de asilo, interposto em novembro de 2022 em França, ganha cada vez mais força. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, revelou à emissora TF1 que, "por razões ainda não esclarecidas, ele procurou asilo na Suíça, Itália e França" e considerou a recusa dos pedidos de asilo. e o ataque uma "perturbadora coincidência".
O agressor está em prisão preventiva.