Valores oficiais referem descidas de preços, mas alunos encontram uma realidade diferente. Novos parceiros privados não estão listados.
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A pandemia encolheu o número de camas disponíveis nas residências universitárias em 15% e a Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) anunciou, no início do ano letivo, um protocolo com hotéis, alojamento local (AL) e pousadas da juventude que representaria um acréscimo de 4500 camas, a preços fixos, equivalentes ao complemento de bolsa pago a estudantes deslocados. Mas a oferta já listada no site da DGES está longe das camas anunciadas, os alunos não a conhecem e ainda não há procura.
"Vamos disponibilizar até 500 camas em [17] pousadas da juventude, dando prioridade a bolseiros numa primeira fase, de acordo com os alunos que as instituições nos encaminharem", explicou fonte da Movijovem. Ainda não têm nenhum quarto ocupado, tal como nenhum dos restantes 15 privados.
O Observatório do Alojamento Estudantil indica que os preços mínimos e máximos diminuíram entre 38% e 9,8%, entre setembro do ano passado e o mesmo mês deste ano. Os estudantes não confirmam a tendência e também desconhecem quais são os hotéis, estabelecimentos de AL e pousadas da juventude que disponibilizaram quartos, este ano, a preços fixos para estudantes.
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"O Observatório não está a incluir-nos e os estudantes não sabem que temos esta oferta", lamentou João Teixeira, CEO do grupo Destination Hostel, que disponibilizou 21 camas em duas unidades em Lisboa.
A renda a pagar pelos estudantes "não vai dar lucro, mal chega para as despesas fixas", como referiu Nuno Constantino, da Hostels- Hub, também em Lisboa.
Num ano em que o AL reporta perdas entre 50 e 90%, o protocolo para estudantes é uma aposta na minimização de perdas e numa retoma do turismo que vai tardar. "Tive uma ocupação de 1% em agosto. Os estudantes vão ocupar quartos até julho, posso perder grande parte da época alta, mas prefiro jogar pelo seguro", explicou Amiral Mamadhussene, dos hostels Inn-Chiado, em Lisboa.
Situação no Porto
"A situação não está muito diferente de outros anos: os preços não baixaram significativamente, continua a faltar oferta e o protocolo do Governo com o AL ainda não disponibilizou camas", resumiu Marcos Teixeira, presidente da Federação Académica do Porto. Na cidade, há 23 mil estudantes deslocados para 1500 camas em alojamento público. Os restantes ficam sujeitos à oferta privada.
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O Observatório do Alojamento Estudantil (student.alfredo.pt), recentemente lançado, numa parceria entre a DGES e a Alfredo AI, uma startup que utiliza a inteligência artificial para recolher e trabalhar dados do setor imobiliário anunciados online, assegura que os preços desceram, especialmente os mínimos de Aveiro (38%) e de Lisboa (22,9%), mas também os máximos em Lisboa (15,3%) e no Porto (9,8%).
"A plataforma inclui a oferta pública de acordo com as listagens fornecidas mensalmente pela DGES, mas não contabiliza os preços das residências. Para o preço médio conta apenas a oferta privada, que recolhemos online, de vários sites, eliminando os preços falsos como nos anúncios a 1€", explicou Gonçalo Abreu, CEO da Alfredo AI. Os valores do protocolo com o AL ainda não entram, nem os parceiros estão listados. "Está a ser planeado", assegurou.
Da capital ao Minho
No terreno, os estudantes encontram outra realidade. "Os preços estão mais controlados, nalguns casos podem ter diminuído um pouco, mas continuam à volta de 400€/500€ em Lisboa", assegurou Sofia Escária, presidente da Federação Académica da capital.
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Rui Oliveira, líder da Associação Académica do Minho, diz que os preços "continuam a subir e até duplicaram, desde 2015". Em vez de 150€, hoje um quarto custa 300€, contando com despesas. "Só temos 1328 camas para 5368 bolseiros", denunciou.
15 965 camas na rede pública de alojamento universitário em todo o país, no final de 2019. As regras agora impostas pela pandemia anularam cerca de três mil camas. Se hotéis e alojamento local disponibilizarem 4500 camas, o total deste ano será de 18 465.
397 mil alunos matriculados no Ensino Superior público, este ano, dos quais 51 mil entrados na primeira fase deste novo ano letivo. Faltam preencher 6050 vagas. Os privados deverão receber mais 38 mil novos alunos este ano.