Em quatro anos, o número de primeiras consultas para deixar de fumar cresceu 49% e a medicação com receita subiu 135%. Novos cigarros são o desafio desta era.
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Cerca de 13 mil pessoas tentaram abandonar o tabaco em 2018. Em quatro anos (2014 a 2018), a procura de primeira consulta de apoio especializado para a cessação tabágica cresceu 49% e a venda de medicamentos sujeitos a receita médica utilizados para tratar a dependência da nicotina disparou. Neste Dia Mundial Sem Tabaco, de assinalar, pela negativa, o tempo de espera para primeira consulta.
De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), o número de primeiras consultas cresceu de 8563 sessões (2015) para 12 795 (2018). O maior salto deu-se entre 2016 e 2017, altura em que o principal medicamento utilizado nesta terapia (substância vareniclina, com o nome comercial de Champix,) passou a ser comparticipado em 37% pelo Estado. Mais de 4300 fumadores procuraram ajuda face ao número registado no ano anterior: 7134 em 2016, 1149 em 2017 - aumento de 61%.
Este cenário teve impacto na aquisição de medicação. Os fármacos sujeitos a prescrição foram os que mais aumentaram em quatro anos, revela a consultora IQVIA. De 2015 para 2018, registou-se um crescendo de 135%. Entre medicamentos com e sem receita, vendidos em farmácia ou parafarmácia, a dispensa cresceu 58%. Em volume de negócio, estamos a falar de um valor superior a oito milhões de euros durante só em 2018.
Emília Nunes, responsável pelo Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, da DGS, sublinha "a importância do crescendo da procura", embora "gostasse que o número fosse maior". De qualquer modo, esta quantidade resulta de uma "subavaliação". "Não só porque não estarão todas as consultas aqui inscritas , como cada vez mais este tipo de apoio é fornecido através de intervenções breves, pelos médicos de família." Dentro de pouco tempo, e em resultado do apelo aos médicos de família para registarem estas intervenções, poderá fazer-se um balanço mais completo, revela a responsável.
Por outro lado, "nem todos os fumadores precisam de acompanhamento especializado", declara. "Há quem consiga fazer a cessação por vontade própria; há quem recorra a "apps para" esse fim". Uma parte destas primeiras consultas diz respeito a "casos complexos, que resultaram de referenciação: pessoas com doenças crónicas, problemas psíquicos".
Três meses de espera
Sobre as consultas, garante que todo o território tem cobertura, podendo, no entanto, haver um local ou outro com falha esporádica. As listas de espera existem mas não serão dilatadas, diz. Ana Figueiredo, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e profissional do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, revela que a espera para a primeira consulta é de cerca de três meses, que será também a média de outras unidades.
A pneumologista admite que a solução para este problema pode incluir reforço da intervenção nos cuidados primários e a comparticipação de outros medicamentos utilizados nestas terapias.
Entretanto, os consumidores dos novos produtos começaram a surgir nas consultas. Emília Nunes e Ana Figueiredo tomaram conhecimento de casos de fumadores de cigarro eletrónico e de tabaco aquecido. "E também têm aparecido quem combine o cigarro tradicional com novos equipamentos", diz Ana Figueiredo.
Dependência
Comissário alerta para novas formas de tabaco
O comissário europeu responsável pela Saúde, Vytenis Andriukaitis, referiu, na propósito do Dia Mundial Sem Tabaco, os novos produtos para fumar e a publicidade enganosa a eles associados. "Estou particularmente preocupado com os jovens que utilizam cigarros eletrónicos e outros novos produtos, tais como tabaco aquecido, que são comercializados com alegações enganosas." O eletrónico pressupõe recurso a líquidos com nicotina e outros aromas e o tabaco aquecido baseia-se na combustão até 350 graus, sem queimar e deixar cinza. Os modelos imitam o cigarro de forma estilizada. Enquanto não houver estudos independentes, que não tenham sido encomendados pelas tabaqueiras, a conversa do menor dano não convence Emília Nunes e Ana Figueiredo. Alegam que "são as empresas que vêm agora reconhecer que o tabaco faz mal à saúde e oferecem uma alternativa, segundo elas, menos prejudicial". Parece que não querem é perder o negócio, acusa Ana Figueiredo.
Números
16,8% de fumadores
É a prevalência de consumo diário de tabaco (15 ou mais anos), segundo a DGS. A monitorização do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências dá conta que 26,3% (15/74 anos) fumaram nos últimos 30 dias.
33% tentam abandonar
Um estudo do Eurobarómetro refere que, em 2017, cerca de um terço das pessoas fumadoras disse ter tentado parar de fumar em algum momento (35,7 %), 6,3 % no último anos e 30,1 % há mais de um ano.