Revolução dos Cravos foi o acontecimento mais relevante dos últimos 50 anos (61%). Escolha é consensual, mas os que mostram maior divisão são os eleitores da AD, de acordo com sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF.
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O 25 de Abril foi o acontecimento mais relevante dos últimos 50 anos para 61% dos portugueses, de acordo com uma sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. Num patamar já distante surgem a adesão à CEE (17%), a aprovação da Constituição (14%) e o 25 de Novembro (4%). Note-se, no entanto, que a crise de 1975, que ditaria o fim do PREC (Processo Revolucionário em Curso), é considerada, de forma bastante consensual, como um momento importante para a democracia (86%), quase tanto como a Revolução dos Cravos (94%).
Nas palavras recentes de Ramalho Eanes, o primeiro presidente da República eleito depois da revolução (cumpriu dois mandatos, entre 1976 e 1986), “há uma data fundadora da democracia: o 25 de Abril”. A maioria dos portugueses (61%) concorda, mesmo que o acontecimento seja posto a “concurso” com outros momentos, como a viagem em direção à União Europeia, a entrada em vigor de uma Constituição ou as tensões políticas que desaguaram no 25 de Novembro.
O 25 de Abril constitui a escolha maioritária em todos os segmentos da amostra, incluindo no cruzamento com o voto partidário. Os que se revelam mais divididos são os eleitores da AD: 51% optam pela Revolução dos Cravos e 46% por um dos três outros momentos. Ainda à Direita, é a data chave escolhida pelos que votam no Chega (58%), embora os verdadeiros “campeões” de Abril sejam os comunistas (96%).
Quando o critério de análise muda para a faixa etária, deteta-se uma curiosidade talvez surpreendente: quanto mais novos os inquiridos, maior a percentagem dos que escolhem o 25 de Abril (70% entre os que têm 18 a 34 anos, face a 55% entre os que têm 65 ou mais anos). Um outro tipo de oscilação é igualmente visível quando se detalha as respostas por classe social: os inquiridos dos dois escalões com rendimentos mais baixos sentem um apelo bem maior pelo “dia inicial inteiro e limpo” do que os dos dois escalões com melhor nível de vida.
“A democracia foi prometida no 25 de abril, com estado de direito e eleições livres, mas o 25 de novembro foi a continuação do 25 de abril. Não percebo que estigmatizem essa data”. As palavras de Ramalho Eanes são de novo confirmadas pelos resultados da sondagem. Se há um relativo consenso sobre a data mais relevante para a democracia portuguesa, e se a isso se acrescenta a quase unanimidade dos que reconhecem a importância da Revolução (94%), há igualmente uma maioria robusta (86%) que reconhece no 25 de Novembro um outro acontecimento decisivo (48% dizem que é muito importante) para a democracia representativa.
A análise das respostas sobrevive até à segmentação da amostra de acordo com o voto partidário. A importância do 25 de Novembro é consensual mesmo entre os eleitores dos quatro partidos mais à Esquerda. É entre os eleitores comunistas que se encontra a maior fatia dos que desvalorizam a crise que marcou o final do PREC, mas mesmo entre estes há dois terços que reconhecem o seu significado (quase metade diz que foi “muito importante”). Caso para concluir que a polarização que tantas vezes se testemunha na vida política sobre esta temática talvez não seja acompanhada pelos cidadãos.
26%. Cerca de um quarto dos portugueses (26%) com 65 ou mais anos - ou seja, a geração que viveu de facto o 25 de Abril - escolhem como momento mais importante dos últimos 50 anos a adesão à CEE (hoje União Europeia).
19%. Ainda que a aprovação da Constituição da República Portuguesa, em 1976, só reúna 14% das preferências, há um segmento partidário que se destaca pela importância primordial que lhe atribui: os eleitores do PS (19%).