Dezenas de milhares de pessoas celebraram o "25 de abril" na Avenida dos Aliados, no Porto, lembrando os valores que rejeitam a guerra e pedem saúde, educação, casa, emprego e reformas dignos para todos.
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A 25 de abril de 2022, o povo saiu à rua e já não era igual ao de há 48 anos. Porventura mais mulheres do que homens, muitos mais diferentes do que iguais, mas todos pelos mesmos valores que, acreditam, fizeram uma revolução que nunca mais permitirá a Portugal voltar atrás.
É essa a convicção de António Camilo, já reformado, com 74 anos. "Portugal nunca mais foi o mesmo e ainda bem", declarou, alto e orgulhoso, recordando como "nem havia mulheres a sair à rua, como hoje, nem ninguém podia falar livremente ou juntar-se, como hoje". As ideias existiam, mas nem podiam "transpirar", sob pena de "irem parar à PIDE". Bem, acrescentou, brincando, "hoje há as Finanças".
"Há alguns discursos, agora, que parecem os de antigamente, como os daquele André Ventura", reconheceu. "Mas nem ele poderia falar, antigamente, por isso até o populismo deve contas à liberdade", rematou. Defensor da "cultura que nos trazem estes estrangeiros que nos visitam e que ficam a trabalhar, porque é a cultura que faz evoluir o país", o antigo técnico de farmácia prometeu "celebrar o 25 de abril, sempre".
E era uma amálgama de culturas que se uniam, esta segunda-feira à tarde, na Avenida dos Aliados. Brasileiros, de bandeira em punho, numa mão, e com um cravo, na noutra, concordavam com os ideais de "liberdade, porque os povos devem ser todos livres" e de paz, sem surpresa, com a guerra na Ucrânia a marcar presença nas celebrações portuguesas. Casais masculinos e femininos revelavam-se com um à vontade de quem não conheceu a repressão, turistas estrangeiros apoiavam a passagem da manifestação e os reformados da APRe! aproveitavam para angariar associados.
"O Mundo e a Europa vive uma fase de polarizações que, provavelmente, vai durar uma década", alertava Inês Fontes. "Em Portugal, acho difícil que as pessoas se esqueçam do que era não haver liberdade, de todo o modo é importante lembrar os valores que estão associados a abril, especialmente quando os discursos populistas ganham terreno", acrescentou a jovem mãe. Maria, de 4 meses, participou pela primeira vez, a iniciar-se na "tradição de família". O pai, Hugo Machado, de 43 anos, também não viveu nos tempos antes da revolução mas insiste que "é importante passar todos esses valores às gerações que não viveram" o "25 de abril".
Entre a festa popular e a reivindicação de direitos que ainda tardam em ser iguais para todos - educação, saúde, emprego digno, habitação, transportes gratuitos, paz -, o "25 de abril" celebrou-se no Porto em liberdade e "sem máscaras, outro tipo de prisão que tivemos durante muito tempo".
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