Desfile do 25 de Abril em Lisboa marcado por várias mensagens alusivas ao fim da guerra.
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Na estação de metro Marquês de Pombal, em Lisboa, ao início da tarde desta segunda-feira, as carruagens esvaziaram-se de centenas de pessoas com cravos vermelhos ao peito, na cabeça ou em carrinhos de bebé. Perto das 15 horas já eram milhares os que se preparavam para desceram a Avenida da Liberdade pela primeira vez sem quaisquer restrições após o início da pandemia. Da rotunda do Marquês de Pombal aos Restauradores, voltou a sentir-se o fulgor do tradicional desfile do 25 de Abril, que este ano foi marcado por novas mensagens alusivas à guerra na Ucrânia.
"Todos somos ucranianos", "Não à guerra, Putin fora da Ucrânia, não à Nato", "Nato fábrica da morte" ou "Pela paz" foram alguns dos cartazes empunhados por partidos políticos e pessoas a título individual, esta tarde de segunda-feira, na Avenida da Liberdade. Catarina Martins, 21 anos, foi com a irmã, Mariana, 19 anos, celebrar a liberdade e lembrar o que a condiciona.
"A guerra é a privação da liberdade. Não podemos esquecer o verdadeiro significado do 25 de Abril, ainda mais agora", partilhou a estudante universitária. Uma mensagem muito presente em quase todas as associações e partidos políticos, entre os quais Bloco de Esquerda, Juventude Comunista e Iniciativa Liberal, que desceram a Avenida.
A precariedade, a falta de habitação, as pensões dos reformados, o pouco investimento na cultura e na saúde e o clima foram outros dos temas mais presentes no desfile, no qual o que mais se ouviu foi "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais".
Chaimites atraem crianças
Pouco antes das 15, hora marcada para o início do cortejo, as chaimites da Associação 25 de Abril foram a principal atração dos mais novos. Dezenas de crianças subiram para o símbolo da Revolução dos Cravos para tirarem uma fotografia. Uma delas foi Álvaro Martins, 4 anos, filho de Carlos, 34 anos. "Acho importante trazê-lo para ele saber quem lutou pela liberdade e o que custou conquistá-la", explica o pai.
Miguel Cordeiro, 42, também levou a filha, Clara de 6 anos. Quando o JN lhe pergunta porque está ali ou o que foi o 25 de Abril, Clara apenas sorri. O pai vai garantir que ela vai saber responder. "As crianças vão crescer com um branqueamento desta parte da história, porque cada vez mais se leciona de forma diferente nas escolas. A extrema-direita, que está a crescer, quer apagar o 25 de Abril. Tento não a fazer esquecer, mas pode não chegar", partilha.
A mãe de Miguel, Paula Sousa, 71 anos, nunca faltou a um desfile e sente o mesmo. "Os nossos direitos e a democracia estão cada vez mais ameaçados, corremos o risco de voltar atrás", receia. Alfredo Fernandes, 94 anos, também nunca falhou o 25 de Abril. "Passou-se muita fome antes de 1974, hoje é um paraíso comparativamente a esse período. Ainda assim podia estar muito melhor", acredita o nonagenário, que segurava a bandeira de Portugal, num cortejo que contou com a presença de figuras como a líder do BE, Catarina Martins, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, o deputado comunista João Ferreira, entre outros.
Iniciativa Liberal à parte
Num desfile à parte, o líder do Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, acompanhado pela embaixadora da Ucrânia, e mais de uma centena de simpatizantes do partido, começou a desfilar na Avenida Fontes Pereira de Melo. Com pouco mais de uma dezena de bandeiras ucranianas e algumas da União Europeia, o desfile foi marcado por mensagens de apoio aos ucranianos e contra Putin."Comunismo é ditadura" ou "Todos somos ucranianos" foram algumas das palavras de ordem. O cortejo só avançou quando o tradicional desfile do 25 de Abril já estava praticamente no fim.