No ano passado houve 447 atropelamentos com fuga, mais 28 do que em 2016, de que resultou a morte de nove pessoas, menos uma do que no ano anterior.
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Os atropelamentos em que o condutor foge do local provocaram ainda 25 feridos graves e 434 feridos leves, revela o relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), que inclui as mortes a 30 dias. Os atropelamentos com fuga têm vindo a aumentar e o ano passado registou o número mais elevado desde 2010, ano em que se verificaram mais vítimas mortais no período analisado (13).
Os atropelamentos são a segunda principal causa de morte nas estradas portuguesas e a grande maioria ocorre em arruamentos dentro das localidades. No ano passado morreram 602 pessoas nas estradas, sendo que 124 foram peões - a segunda categoria mais elevada (20,59% do total), à frente dos condutores de motociclos, que foram 100. A maior mortalidade verifica-se nos condutores de veículos ligeiros: 198 perderam a vida nas estradas em 2017.
Os dados relativos a 2018, entretanto disponíveis, confirmam a tendência de crescimento dos atropelamentos. Entre janeiro e julho ocorreram 53 mortes de peões (mais 13 do que no ano anterior), em 2780 atropelamentos (menos 56). Mas estes números referem-se apenas a óbitos no local e não incluem os casos de feridos graves que acabam por morrer no hospital nos 30 dias seguintes.
Sempre a velocidade
No entender de Mário Alves, presidente da organização Estrada Viva, os números dos atropelamentos com fuga são demasiado baixos para se poder "detetar uma tendência", mas sublinha que "são sempre números lamentáveis". Em relação ao aumento global dos atropelamentos, o engenheiro de tráfego revela que "tem sido uma tendência que se tem sentido nos últimos anos, e é de facto uma situação preocupante" (ver infografia). A Estrada Viva é responsável pelas atividades do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, que hoje se assinala.
O investigador considera que "a velocidade é uma das causas principais, se não a principal, dos atropelamentos" e que "está sempre presente quando há um atropelamento". Para Mário Alves, o combate à velocidade excessiva nas zonas urbanas "deverá ser uma prioridade de todos nós".
Mais zonas de 30 quilómetros
Uma das medidas que tem vindo a ser anunciada pelo Governo para combater este tipo de sinistralidade é a criação de zonas com limite de 30 quilómetros por hora. Fonte do Ministério da Administração Interna adiantou ao JN que as normas técnicas para a criação de zonas 30 e de zonas de coexistência "serão publicadas em breve".
Entretanto foi já divulgado, pela ANSR, o Programa de Proteção Pedonal e de Combate aos Atropelamentos, criado no âmbito do Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária (PENSE 2020). O documento aponta as zonas mais críticas das localidades e as medidas que devem ser adotadas pelas autarquias. "É muito importante que os municípios tomem medidas para reduzir a velocidade dos automobilistas e isso tem sido feito muito pouco em Portugal", lamenta Mário Alves.
Passadeiras em 3D obrigam condutores a abrandar velocidade
No mês passado, a Câmara da Maia começou a testar a colocação de passadeiras 3D nas vias. O objetivo é criar uma ilusão de ótica que faz os condutores abrandar quando se aproximam. A primeira foi pintada junto ao Colégio Novo da Maia, em Milheirós. Se a medida tiver sucesso, serão colocadas outras no concelho. A freguesia da Maia está identificada no Plano de Proteção Pedonal como o local do concelho com maior índice de perigosidade dentro das localidades.
16 mortes em passadeiras e outras duas em passadeiras, mas com desrespeito pelos semáforos. Mário Alves lembra que muitos peões são crianças ou idosos, alguns com demências e sem capacidade para avaliar o perigo, pelo que defende que não se deve pôr a responsabilidade na vítima.