62% dos casos de covid-19 em pessoas com mais de 80 foram registadas neste ano
Mais de 135 mil casos de covid-19 com pico em maio. Portugal com 52,7 óbitos por um milhão de habitantes. Mortalidade por todas as causas acima do esperado.
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Neste ano, registaram-se já mais de 135 mil casos de infeção por SARS-CoV-2 nos maiores de 80 anos, correspondendo a 62% do total de casos naquela faixa etária. Quanto aos óbitos, que atingiram o seu máximo no fatídico janeiro do ano passado, contam-se, neste ano, mais de 3200, ou seja, 21% do total registado nos 80 e mais anos. Portugal contabiliza, agora, 52,7 óbitos por um milhão de habitantes. No que à mortalidade por todas as causas diz respeito, nos primeiro dez dias deste mês, em metade registou-se um excesso de óbitos.
De acordo com os cálculos do matemático Óscar Felgueiras, o passado mês de maio é, de longe, aquele que regista mais casos de covid nos maiores de 80 anos. Analisando os óbitos, janeiro de 2021 é o mês com mais registos. Recorde-se que aquele mês responde por um quarto do total de óbitos por covid, em todas as faixas etárias, registados no nosso país até ao passado dia 8.
Sendo que, explica ao JN o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, neste momento, 79% dos óbitos ocorrem nos mais de 80 anos. Contudo, desde "22 de maio, a letalidade tem vindo sempre a descer". Tal como "a percentagem de pessoas com 80 e mais anos em enfermaria, que tem vindo a descer devagarinho".
Letalidade a baixar
Segundo Óscar Felgueiras, depois da letalidade (proporção de óbitos sobre casos) ter atingido um pico de 3,16% na faixa acima dos 80 anos, está agora nos 2,12% (dados a 8 de junho). De acordo com o relatório de monitorização epidemiológica de anteontem do INSA e da DGS, 41% dos internados em enfermarias tinham mais de 80 anos e a maioria (60) tinha entre 60-79 anos. Em Cuidados Intensivos, estavam 15 doentes.
Com a descida no número de casos diários, a expectativa é de que, "em breve, se comece a notar algum alívio nos óbitos", diz o professor da Universidade do Porto. Explicando que "a mortalidade é elevada, porque os casos nos maiores de 80 anos estão em máximos, sendo mais derivado da quantidade [de casos] do que da severidade [da doença]. Os dados mostram que 71% do total de casos e 19% dos óbitos ocorreram neste ano. A manter-se uma média de 40 óbitos diários, o matemático Carlos Antunes estima, por sua vez, que podemos ter neste meio ano mais óbitos do que no primeiro ano de pandemia.
Excesso de óbitos
Acima do esperado para a época está, também, a mortalidade por todas as causas, calculando ontem à tarde o eVM - sistema de vigilância em tempo real - um excesso de 224 óbitos nos últimos dias. Nos primeiros dez dias de junho, em metade houve óbitos em excesso.
O EuroMOMO, que monitoriza a mortalidade na Europa e cujo algoritmo é utilizado pelo eVM, coloca apenas Portugal e Alemanha com excesso de mortalidade na primeira semana, classificando o nível de excesso "baixo". O relatório do INSA e da DGS refere que "a mortalidade por todas as causas encontra-se acima do esperado para a época do ano, indicando um excesso" de óbitos, "embora de reduzida magnitude".
Segunda dose de reforço da vacina administrada a um terço
Até ao passado dia 6, 33% da população com 80 ou mais anos tinha recebido a segunda dose de reforço, de acordo com os dados da DGS. Reforço vacinal que, explica o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, foi antecipado devido à mortalidade por covid naquele grupo etário. E o impacto desta vacinação, diz, sente-se já, com "a percentagem de maiores de 80 anos em enfermarias a descer".
Quanto à campanha de vacinação contra a gripe e a covid para o outono/inverno, Manuel Carmo Gomes, que integra o Comité Técnico de Vacinação, explica haver "várias coisas em cima". Isto, porque "ainda não se sabe quantos meses dura a proteção" conferida por esta quarta dose. Aguardando-se, ainda, os resultados dos ensaios das vacinas adaptadas às variantes para se "decidir qual a formação da vacina".
Questionado sobre uma possível hesitação desta população em tomar a quinta dose, recorda que tal sempre foi uma "preocupação", mas que "os idosos têm uma grande adesão à vacinação, porque têm medo". Já "a cobertura vacinal do primeiro reforço abaixo dos 50 anos está abaixo dos 50%", revela.