Menores não acompanhados estão a ser acolhidos em casas de Lisboa, Porto, Braga, Covilhã e Nazaré. Muitos vêm do campo de Lesbos, na Grécia.
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Deixaram para trás os seus países de origem. Em muitos casos, foram vítimas de guerras e de perseguições. Passaram por duros campos de refugiados, foram afastados das famílias e esperam, agora, encontrar em Portugal a paz de um futuro mais próspero. São 72 as crianças e jovens refugiados, não acompanhados, que já foram acolhidos no nosso país. O anúncio foi feito, ontem, por Mariana Vieira da Silva, ministra de Estado e da Presidência. Só este mês, vieram 25. Em breve, chegarão mais seis.
António Costa comprometeu-se em março com a Comissão Europeia a receber em Portugal até 500 crianças e jovens refugiados. Em maio, chegaram os primeiros 25. E desde aí tem prosseguido. Nestes 72 menores - 70 do sexo masculino e dois do feminino - estão presentes 14 nacionalidades e 18 idiomas. "28% não tem escolaridade ou tem apenas o quarto ano. Por isso, o esforço de integração tem envolvido todo o Governo e tem que envolver toda a sociedade portuguesa", apelou Mariana Vieira da Silva, numa audição requerida pelo Bloco de Esquerda.
Do grupo que se encontra em Portugal, a maioria das crianças e jovens é oriunda do Paquistão. Têm entre os 10 e os 18 anos, mas a faixa etária mais representada é a dos 16 e 17 anos. Cerca de 31% estavam no campo de Lesbos, na Grécia. Chegados cá são distribuídos pelo território, a grande fatia está instalada em casas de acolhimento especializado, em Lisboa, Porto, Braga, Covilhã e Nazaré.
Ter um lar
Há três respostas previstas para receber estas crianças e jovens. O "primeiro lar" são as casas de acompanhamento especializado, associadas a várias instituições. Depois, há a possibilidade de famílias portuguesas as receberem, sendo que, até agora, só há um caso, o de uma menina, a mais nova dos 72, natural do Congo.
Por último, para os mais velhos, há a hipótese de autonomização, em apartamentos ou em quartos. "Três jovens já estão autonomizados e 14 em fase de autonomização", adiantou Cláudia Pereira, secretária de Estado para a Integração e as Migrações.
O propósito comum a todos é um: planear o futuro. "Os projetos de vida são desenhados pelas equipas com os próprios jovens. Por exemplo, três escolheram cursos profissionais de informática e de mecânica, outros querem seguir para a universidade e alguns trabalhar", explicou Cláudia Pereira, adiantando que o acompanhamento aos jovens é minucioso e conta, por exemplo, com "formação na gestão do dinheiro". Antes disso, está a aprendizagem da língua portuguesa.
Tanto as instituições como as famílias que acolhem os menores refugiados recebem formação. Afinal, muitos deles passaram por experiências como "a travessia, que é traumática, e a violência que sofreram nos campos da Grécia", referiu a secretária de Estado.
O Governo diz tentar que o acolhimento seja "estrutural", pois "todos os detalhes são muito importantes". "Há pormenores que não imaginamos, como o facto de muitas destas crianças não conseguirem dormir à noite. Ou dormem vestidas ou estão a pé".
O que é preciso para ser família de acolhimento
Várias famílias têm demonstrado à secretaria de Estado para a Integração e as Migrações a sua disponibilidade para acolher crianças refugiadas. Cláudia Pereira especificou que há critérios para tal. "São os mesmos que existem para crianças portuguesas, mas adaptados". A motivação para acolher, os recursos socioeconómicos, as competências parentais, a disponibilidade de tempo, a rede de apoio de que disponibilizam ou a forma de lidar com o stress, são fatores avaliados nas famílias.
Detalhes
60 entidades
Mariana Vieira da Silva referiu que já houve 60 entidades, sediadas em 15 distritos do país, que mostraram disponibilidade para criar casas de acompanhamento especializado.
Quarto lugar
No final de novembro, segundo a ministra, "Portugal era o quarto país dos estados-membros que mais acolheu crianças e jovens refugiados, depois da Alemanha, França e a Finlândia".
Grupo único
O Governo criou um "grupo operativo único" para "garantir que se consegue um modelo comum de acolhimento" para os migrantes