Centenas de professores manifestaram-se esta terça-feira na Avenida dos Aliados, no Porto. "Não paramos, não paramos", foi a frase que marcou o protesto, deixando claro que, após vários meses, a luta irá continuar.
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As frases de ordem marcaram o passo dos professores que saíram em marcha desde o Campo 24 de Agosto até à Avenida dos Aliados, no Porto. A data de hoje tem um grande significado para os profissionais de educação: 6.6.23 - seis anos, seis meses e vinte e três dias de tempo de serviço congelado.
Com cartazes, bandeiras, megafones e mensagens dirigidas ao Governo e ao Ministério da Educação, as centenas de professores caminharam pelas ruas do Porto reivindicando os seus direitos e melhores condições profissionais. "O Governo de Portugal apropriou-se de um bem que é essencial a todos os professores: o seu tempo de serviço, que foi cumprido num período bem difícil, com salários cortados, com progressões congeladas, com subsídios suprimidos", afirmou o secretário-geral da Fenprof.
A representar a classe, Mário Nogueira, juntamente com os representantes dos outros oito sindicatos que aderiram ao protesto, deixou claro que a luta irá continuar. "Não paramos. Não cedemos nem um dia. Não exigimos a recuperação deste tempo pela simples reposição de justiça, o que já seria legítimo e justo. Exigimos porque não aceitamos a discriminação. Isto terá um impacto fortíssimo e muito negativo na futura pensão de aposentação de cada professor", salientou o secretário-geral da Fenprof.
Já são muitos os meses de luta, entre greves e manifestações, e os professores continuam sem respostas. O cansaço não impede a luta, não tira os docentes das ruas, nem lhes cala a voz. "Não nos vencem pelo cansaço. Vamos até ao fim para recebermos o que nos foi roubado. Só queremos aquilo que é nosso por direito", garante Rosa Máximo, professora e representante do Sindicato dos Professores da Zona Norte, da Distrital de Viana do Castelo.
Uma luta pelo ensino
Além da manifestação no Porto e em Lisboa, que será da parte da tarde, os nove sindicatos anunciaram uma greve para esta terça-feira, o que deverá ter levado ao encerramento de muitas escolas em todo o país.
Em resposta às afirmações que o ministro da Educação proferiu na semana passada sobre as greves dos professores, argumentando que os principais prejudicados são os alunos, os docentes garantem que a luta é pelas escolas e pelo ensino. "A nossa luta é pelos alunos porque nós só somos bons profissionais se tivermos os alunos felizes", sublinha Rosa Máximo.
Mário Nogueira explica que "as escolas sofrem com a falta de professores qualificados, com o excessivo número de alunos em muitas turmas, com a falta de recursos para garantir uma educação verdadeiramente inclusiva".
Para Mário Nogueira, a constante desvalorização e a instabilidade da profissão vão resultar no abandono da profissão. "O Governo diz que os professores vão deixar de andar de casa às costas. Eu acho que sim. Muitos vão provavelmente deixar de ser professores", alerta o secretário-geral da Fenprof.
Ana Sousa, professora há cerca de 18 anos, marchou junto com as centenas de colegas. "Trabalhei por todo país, às vezes com horários precários, mas mesmo assim tinha o sonho de ser professora. Agora, o Governo diz que posso efetivar mas obriga-me a concorrer novamente ao país todo", explica a professora, cansada mas em luta. Acrescenta que se tiver que ir para longe, vai desistir da profissão". Ser professora "é o que gosto de fazer mas vou ter que desistir porque não consigo. O dinheiro que ganho não dá pagar duas casas, é inconcebível", assume.
"A escola de qualidade está a terminar. É preciso tornar a carreira atrativa porque ninguém quer ser professora hoje em dia. Tem que se chamar jovens para a carreira e tratar bem os que cá estão há muito tempo", alerta a professora.