Já lá vão 28 anos de conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas e, em 2023, espera-se mais de uma cimeira que reúne anualmente centenas de líderes mundiais. Passar das palavras às ações é o mote. No primeiro dia de COP28, ficou acordado que o fundo de "perdas e danos" vai mesmo avançar em 2024.
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A magnitude da Expo Dubai quase que nos distrai, por estes dias, da importância do que está ali a acontecer. Tudo é grande e imponente, tal e qual os efeitos do clima na Terra. A COP28, a conferência das Nações Unidas para as alterações climáticas, reúne quase 200 líderes mundiais e mais de 70 mil delegados, a partir desta quinta-feira e até 12 de dezembro, no Dubai, para discutir o futuro do planeta. Este ano, a edição da COP ficará marcada pelo balanço global dos países ao Acordo de Paris, que estabeleceu em 2015 que a temperatura global não ultrapasse os 1,5 graus.
Ainda antes de entrar no recinto da COP, somos inundados por mensagens que instam, principalmente os governos das nações, a ir mais longe nas palavras e a concretizá-las em atos no terreno. O Mundo assim o está a exigir, com consequentes recordes de temperatura a ser ultrapassados no planeta. Também o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, não deixou passar os números em branco, esta quinta-feira, ainda que à distância.
"Estamos a viver um colapso climático em tempo real e o impacto é devastador", disse António Guterres, numa mensagem em vídeo durante a apresentação do relatório intercalar de 2023 da Organização Meteorológica Mundial. Tudo indica que este será mesmo o ano mais quente da História. O secretário-geral da ONU instou os líderes mundiais a "apresentar propostas claras para a próxima ronda de planos de ação climática" e a comprometerem-se "a abandonar os combustíveis fósseis".
Nos próximos dias, e enquanto decorrem negociações, não será fácil chegar a consensos. O fosso entre os países desenvolvidos e os mais pobres agigantam-se com as alterações climáticas e trazem novas tensões às relações diplomáticas. Veja-se o caso do fundo de "perdas e danos", que ajudará a mitigar os efeitos das alterações climáticas, sobretudo nos países em desenvolvimento.
"Fundo vazio"
No primeiro dia da COP28, ficou acordado de que o fundo de 100 mil milhões de euros, pouco mais de 91 mil milhões de euros anuais, entrará em vigor em 2024. No ano passado, na COP27, no Egito, havia o compromisso de criar esta ajuda, pelo que a expectativa para colocar o fundo em marcha é grande.
Também neste ponto, a discórdia está presente. Os representantes dos países mais pobres têm instado as nações mais ricas a ajudar. "Um fundo vazio não pode ajudar os nossos cidadãos", disse Madeleine Diouf Sarr, presidente de 46 países menos desenvolvidos, esta quinta-feira.
Os Emirados Árabes Unidos, anfitriões da COP28, anunciaram que vão contribuir com 100 milhões de dólares para o fundo de "perdas e danos". Por outro lado, os Estados Unidos rejeitaram a possibilidade de contribuições obrigatórias e salientaram que outras nações ricas como a Arábia Saudita e a China deveriam também ajudar.
O depósito do fundo que ficará no Banco Mundial, provisoriamente por quatro anos, também não foi consensual. Os países menos desenvolvidos, inicialmente, opuseram-se à opção, por considerarem que as contribuições ficariam nas mãos dos países desenvolvidos.
Polémicas e um comunicado falso
A conferência do clima das Nações Unidas tem sido marcada também por polémicas, algumas delas envolvendo o presidente da COP28, o sultão Al Jaber, que é também chefe executivo da empresa nacional petrolífera de Abu Dhabi.
Ainda antes do início da COP, uma investigação da BBC denunciava que Al Jaber estaria a aproveitar a conferência para fazer acordos petrolíferos, o que viria a ser desmentido pelo próprio. "Essas alegações são falsas, não são verdadeiras, são incorretas e não são precisas", disse o sultão em conferência de imprensa, esta quinta-feira.
O dia ficou marcado pelo envio de um comunicado falso à agência de notícias "Associated Press", onde se lia que Al Jaber tinha renunciado ao cargo da COP28. A organização da conferência desmentiu a informação, mais tarde, e confirmou que o sultão continuaria como presidente da cimeira.