Maria dos Prazeres foi para o lar por vontade própria. Manteve-se independente até há pouco tempo.
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Maria dos Prazeres Simões é uma das 2801 pessoas centenárias em Portugal registadas nos Censos de 2021. A 28 de novembro, ultrapassou essa barreira da longevidade. A celebração dos 101 anos ocorreu no lar onde reside, Conde Agrolongo, em Braga. Com bolo, flores e parte da família reunida, Prazeres, como é carinhosamente tratada, surge numa das salas barrocas do edifício bracarense. Penteada e bem arranjada, é posicionada no feixe de sol que entra pelo espaço que é pautado pelo frio típico da região nesta altura do ano.
Há 22 anos no lar, ali chegou por vontade própria. Tinha 80 anos e disse aos três filhos (atualmente com 77, 79 e 80 anos) que queria acompanhamento, embora até à pandemia tenha conseguido manter a sua independência. "Até aos 98 anos saía sozinha à rua, dava o seu passeio, andava pelo próprio pé e conversava", conta a neta Raquel. Com os confinamentos, perdeu mobilidade e alguma lucidez, "mas continua sorridente e forte".
Mais dependentes
Maria dos Prazeres é a única centenária do lar onde vive, mas já chegaram a estar lá três em simultâneo. Perto desse número redondo estão os cinco utentes que têm, atualmente, entre 95 e 99 anos. Ao longo dos anos, sinaliza Manuel Fernando Barroso, vice-presidente da direção do Lar Conde Agrolongo, "é visível a maior longevidade da população no tipo de utente que se mantém no lar".
O dirigente realça as alterações necessárias na estrutura, equipamentos e funcionamento do lar para acomodar os diferentes utentes que têm surgido. "Temos mais casos de demência e isso implica arranjar formas de proteção e segurança para essas pessoas que, até agora, não tínhamos".
Utentes mais velhos são também sinónimo de mais internamentos e cuidados de saúde e mais complicações psicológicas significam maior necessidade de controlo medicamentoso, por exemplo, entre outras dificuldades acrescidas para os cuidadores, tanto informais como profissionais, aponta Manuel Barroso.
Além da família, Maria dos Prazeres é acompanhada por duas caras conhecidas: as técnicas do lar responsáveis pela sua ala.
"Apesar de já ter menos capacidade física, não perdeu o seu feitio difícil", conta uma delas. Sabe bem o que quer e o seu lugar preferido é no quarto, à janela, a observar a azáfama citadina, confidenciam.
Na sua vida, cabiam duas ou três. Divorciou-se na casa dos 30 anos, numa altura em que "divórcio" era uma palavra quase proibida; viveu e cuidou dos três filhos rapazes sozinha o resto da vida e nunca largou amizades e passeios pela cidade. Para os seus colegas quase centenários, Maria dos Prazeres não hesita em revelar o segredo: meia torrada e um pingo. O seu pequeno-almoço desde sempre.