Foi a abstenção mais alta alguma vez verificada em eleições legislativas livres, com 45,5%, mais 1,4% do que há quatro anos. Os Açores (com uma abstenção de 63,50%) foram, de novo, a região do país com maiores índices.
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Há 14 anos que a abstenção não desce da casa dos 40%. Pelo contrário, tem vindo sempre a aumentar, o que preocupa os partidos, que admitem fazer uma reflexão profunda. A CDU, contudo, aponta o dedo às televisões.
É certo que a taxa de abstencionistas nas legislativas de ontem ficou muito aquém dos 68,6% registados nas europeias de maio passado. Também é verdade que os cadernos eleitorais ganharam mais 1,2 milhões de euros, devido ao recenseamento eleitoral automático. Mas esse aumento apenas se verificou na emigração, onde ainda não foram apurados resultados.
Por isso, os partidos estão preocupados. Até porque, em 16 legislativas, só em 2005 a abstenção desceu de 38,5% para 35,7%. Foram eleições antecipadas por Jorge Sampaio, após ter demitido o então primeiro-ministro Pedro Santana Lopes. Ganhou o socialista José Sócrates com 45%.
Entre 1999 e 2002, houve uma ligeira inflexão. Mas pouco significativa, porque se traduziu numa queda de apenas 0,4%. Em 1999, a abstenção foi de 38,9% e em 2002 passou para 38,5%. E , desde 2009, que a abstenção não sai da casa dos 40%. Há quatro anos, 44,1% dos eleitores portugueses não foram votar. Nas primeiras legislativas livres, tinham sido 8,3%. Ontem, 4.250.660 eleitores (45,5%) ficaram em casa.
MAU PARA DEMOCRACIA
"Isto não é bom para a democracia", considerou o presidente do PSD, Carlos César, defendendo que é preciso fazer um maior esforço de aproximação dos políticos aos eleitores.
Se para Inês Sousa Real, do PAN, é preciso perceber "o porquê de tantas pessoas continuarem a não ir votar", para o secretário-geral do PSD, José Silvano, está claro que reside na "forma de os partidos comunicarem". O BE crê, todavia, que existem mais motivos.
"As causas são diversas, são complexas, exigem a continuidade de uma reflexão profunda", sustentou a bloquista Joana Mortágua. "É um desafio para o futuro, um elemento de reflexão que os partidos têm que ter", concordou o diretor do gabinete de estudos do CDS-PP, Diogo Feyo.
O dirigente comunista, Armindo Miranda, não tem dúvidas de que a culpa é do "atrofiamento das mentes" e das televisões.
Se a abstenção aumentou, já os votos brancos e nulos estagnaram: 2,54% foram brancos e 1,74% nulos. v