Berta Cabral, secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores, disse esta quinta-feira que o arquipélago está a tentar obter a medalha de ouro como Destino Turístico Sustentável para o ano de 2024. O membro do governo regional dos Açores apontou que está a decorrer uma auditoria de certificação da sustentabilidade, esta semana, para que o arquipélago garanta a terceira medalha de prata (nível III).
Corpo do artigo
No arranque do congresso mundial da Organização Internacional de Turismo Social (ISTO, sigla em inglês), que decorre em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, Berta Cabral adiantou que, apesar da "posição privilegiada [do arquipélago] em matéria ambiental", "as questões sociais" associadas ao turismo "são cada vez mais prementes". "Sem qualidade de serviço, não há sustentabilidade", acrescentou.
A secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores afirmou ser necessário "garantir instrumentos de inclusão social", em que os habitantes e os trabalhadores locais das nove ilhas do arquipélago não são esquecidos, mas antes entendidos como um "ativo valioso". Os Açores foram o primeiro arquipélago do Mundo a receber, em dezembro de 2019, a distinção de "Destino Turístico Sustentável", entregue pelo Global Sustainable Tourism Council.
No congresso da ISTO, organizado nos Açores pela Fundação INATEL, debate-se durante quatro dias a sustentabilidade social como um fator-chave para o futuro do turismo. Na sessão de abertura, Francisco Madelino, presidente da Fundação INATEL, referiu que a "agenda da sustentabilidade é fundamental para turismo solidário" e para o chamado "turismo normal", assente na lógica de mercado.
Minutos mais tarde, Isabel Novoa, presidente da ISTO, afirmou que "o Mundo enfrenta muitos desafios", entre eles, o da "emergência climática", sendo impossível dissociar este conceito da sustentabilidade social e da melhoria das condições de vida das populações locais, disse. A dirigente reconheceu, no entanto, que a própria participação dos congressistas, oriundos de 20 países, gerou inevitavelmente "emissões de CO2", através das viagens de avião.
1580497640877223936
Aumentar salários e diversificar oferta
Se viajar para as ilhas exige transporte aéreo, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal defendeu, no primeiro plenário do congresso, que "não adianta ter hotéis de cinco estrelas, quando não existem preocupações ambientais". O responsável reconheceu que o setor necessita de "fazer mais" e tal passa pelo aumento dos salários dos trabalhadores e da competitividade. "Cuidar das nossas pessoas" é um dos desafios a que o turismo em Portugal, e em outras latitudes, terá de ter em conta, afirmou.
Segundo dados da diretora regional do Turismo dos Açores, entre janeiro e julho deste ano, havia 2415 pessoas a trabalhar nos hotéis do arquipélago. Rosa Costa afirmou, no congresso, que houve momentos em que os Açores não estavam preparados para a afluência de turistas, sobretudo nos pontos mais conhecidos e com vistas privilegiadas, como a Lagoa das Sete Cidades, na ilha de São Miguel.
Existem, neste momento, projetos para diversificar a atenção dos que visitam os Açores e para preservar as gentes e os lugares, como o Rotas Açores (itinerários culturais e paisagísticos) e o Cycl'in Azores (infraestruturas e percursos de ciclismo na ilha de Santa Maria). "Cada ilha tem um grupo de trabalho, onde apontam o que gostavam de ver implementado em termos de sustentabilidade", disse a diretora regional do Turismo dos Açores. A revisão do Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores está também a ser feita. A conclusão do documento deve ficar pronta no próximo ano.
Desafiado pelo presidente da Fundação INATEL a dizer onde seria melhor investir "um euro", se no Rock in Rio ou nas casas de pedra de Trás-os-Montes, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, respondeu ser necessário haver uma "sinergia e coordenação" entre as partes. "Temos de investir no local onde trouxer mais benefícios", apontou.
O responsável do organismo de regulação do setor turístico em Portugal comparou a questão com as viagens aéreas. "Dizem que as viagens de avião são muito poluentes, mas Portugal não tem comboio. Os turistas chegam de avião. Se a aviação desaparecesse, desaparecia o turismo. Então nas ilhas nem se fala", concluiu.