Marcelo Rebelo de Sousa manifesta-se preocupado com o "adiamento de decisões importantes" para os próximos tempos, na habitual mensagem de Natal exclusiva para o JN, alertando para as consequências no crescimento e no emprego. E defende ser preciso evitar injustiças e atrasos que enfraquecem a democracia.
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O presidente da República, que escreve a sua mensagem para o JN pelo terceiro ano consecutivo, fala de "um Natal dividido entre a preocupação e sobretudo a esperança". E divide este sentimento misto entre Portugal e a realidade internacional.
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No que toca à preocupação, avisa que "continuam ou multiplicam-se, no Mundo, sinais que não são boa notícia nem para a paz, nem para o diálogo, nem para a convivência entre pessoas, povos, culturas e civilizações".
Entretanto, "a Europa inicia um novo ciclo político com alguns outros sinais que continuam a provocar apreensão". O chefe de Estado fala de "sinais como a situação mais ou menos crítica de certos sistemas políticos nacionais" e como "o apagamento de lideranças convictas, claras e determinadas e a emergência de compassos de espera ou fragmentações internas as mais variadas".
Em seguida, e analisando a realidade caseira, lamenta "sinais como o adiamento de decisões importantes para os anos mais próximos em áreas essenciais, até pela influência em termos de crescimento e emprego sustentados e significativos". De seguida, o chefe de Estado estende a sua preocupação a outras áreas. "Preocupante, também, embora num plano diferente, no que toca a Portugal, quanto à concentração do debate público em pontos específicos, mais formais do que substanciais, mais conjunturais do que estruturais, à sensação difusa de que o dia a dia deve prevalecer sobre os horizontes de médio e longo prazo na perceção social de muitos, à situação crítica da comunicação social, acicate de instabilidade, de preferência pelo imediatismo, de potenciação do efémero em detrimento do fundamental", enfatiza.
A esperança existe
A preocupação não tira, porém, lugar à esperança. "Mas acrescentei que de um Natal sobretudo de esperança se tratava. Isto é, a esperança existe e permite mobilizar, mesmo quando a preocupação se manifesta", lembra, em seguida, Marcelo Rebelo de Sousa. Esperança no Mundo, na Europa e em Portugal. Em particular para o nosso país, lança um apelo contra as injustiças, os atrasos e displicências que ameaçam as bases da democracia.
"(...) Entre nós, o bom senso, a experiência de muito passado e do que nele se viveu e o apelo de mais e melhor apontam para olhar mais alto e mais longe e cuidar de evitar injustiças, desigualdades, omissões, atrasos e displicências que criem o caldo para o enfraquecimento de pilares basilares de uma Democracia viva e de futuro", adverte o presidente da República.
Ainda recentemente, Marcelo Rebelo de Sousa, que tem dado especial atenção aos sem-abrigo, apontou o combate às desigualdades e à pobreza, a melhoria da educação e o crescimento duradouro da economia como problemas e desafios de Portugal.
Na viagem a Itália que realizou em novembro, por exemplo, o presidente fez o retrato da realidade portuguesa. "Temos alguns problemas. Em matéria de educação, apesar do avanço em democracia, ainda temos desigualdades muito grandes", afirmou.
Na altura, Marcelo reforçou também a ideia de que Portugal tem "problemas de coesão social", territoriais e entre gerações, considerando que "há ainda desigualdades que puxam todos para baixo, que são um limite ao progresso do país".
Esta quarta-feira à noite, será o primeiro-ministro António Costa a dirigir-se ao país, na habitual mensagem de Natal transmitida pela RTP.