Adjunto de Galamba demitido foi jornalista, passou pelo BE e trabalhou com Pedro Nuno
Frederico Pinheiro, 36 anos, o adjunto de João Galamba que se soube esta sexta-feira ter sido demitido pelo ministro por causa da comissão parlamentar de inquérito à TAP, começou a trabalhar no Governo em 2017 como técnico especialista no gabinete do então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, no XXI Governo Constitucional. Mas antes chegou a ser assessor parlamentar do Bloco de Esquerda.
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Em 2019, quando Pedro Nuno Santos ascendeu a ministro das Infraestruturas e da Habitação, Frederico Pinheiro acompanhou-o como adjunto no seu gabinete. No XXIII Governo Constitucional, após as eleições legislativas de janeiro de 2022, manteve-se no cargo. Com a saída de Pedro Nuno Santos do Governo, na sequência da polémica na TAP, foi nomeado adjunto do ministro das Infraestruturas João Galamba, a 18 de janeiro de 2023.
Aos 36 anos, Frederico Pinheiro somou experiências em vários órgãos de comunicação social, como a agência Reuters, Renascença, Antena 1/RTP e semanário Sol. Foi investigador na Fundação Rosa Luxemburgo, entre 2012 e 2014, e trabalhou como assessor do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, entre 2013 e 2014. É licenciado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem um mestrado em Economia e Políticas Públicas, do ISCTE, e é doutorando em Economia Política pelo ISCTE, ISEG e Universidade de Coimbra.
Frederico Pinheiro, o adjunto demitido pelo ministro das Infraestruturas, disse, esta sexta-feira, em comunicado, que o ministro João Galamba queria mentir à comissão de inquérito da TAP. O ex-jornalista acusou o governante de ter pretendido negar a existência de notas sobre as duas reuniões preparatórias ocorridas em janeiro, antes de a ex-CEO da companhia aérea ir ao Parlamento.
Versões contraditórias
Em comunicado, Frederico Pinheiro diz que, no dia 24 de abril, fonte do gabinete de Galamba lhe comunicou que iriam responder à comissão parlamentar de inquérito (CPI) da TAP, dizendo que "não existiam notas da reunião" entre membros do Governo e a CEO da TAP. O adjunto garante que "tal era falso" e que alertou o gabinete do ministro que "era provável" que fosse chamado à CPI, referindo que "nesse momento seria obrigado a contradizer a informação que estava naquela resposta", de que disse discordar.
Frederico Pinheiro alega agora que existiram duas reuniões preparatórias - e não apenas uma - antes da audição da ex-CEO da TAP no Parlamento, em janeiro. De acordo com Frederico Pinheiro, João Galamba e Christine Ourmières-Widener estiveram presentes na primeira, tendo a segunda - ocorrida no dia seguinte, véspera da audição - sido entre a ex-CEO e o grupo parlamentar do PS.
Segundo o semanário "Expresso", Pinheiro coordenou a reunião entre a ex-CEO da TAP e o PS. Um dia depois, Galamba contactou o ex-assessor, por mensagens e telefone. "Em ambas as ocasiões, Frederico Pinheiro deixa claro que a decisão que tomaram de não revelar a existência das notas teria de ser revista", sob pena de estarem a mentir à CPI.
Frederico Pinheiro quis levar o computador onde tinha os documentos da reunião, alegadamente para fazer uma cópia. Outros elementos do gabinete terão tentado demovê-lo, chegando a haver agressões. A polícia foi chamada ao ministério e terá sido apresentada pelo menos uma queixa-crime contra o assessor.
O gabinete de Galamba aponta que Frederico Pinheiro foi demitido por "comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades inerentes ao exercício das suas funções num gabinete ministerial".
Partidos pedem demissão de Galamba
Ao início da noite desta sexta-feira, o Ministério das Infraestruturas nega que "tenha procurado condicionar ou omitir informação prestada à CPI da TAP". "Toda a documentação solicitada pela CPI foi integralmente facultada", dizem em comunicado.
A tutela contradiz Frederico Pinheiro e aponta que a exoneração do ex-adjunto se deve ao facto de "ter repetidamente negado a existência de notas de reunião que eram solicitadas pela CPI".
Entretanto, os grupos parlamentares do PSD e do Chega anunciaram que pediram, esta sexta-feira, a audição de Frederico Pinheiro na comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão TAP. Depois da exoneração do adjunto de João Galamba, ambas os partidos consideraram que Galamba está diminuído e com poucas condições para continuar como ministro das Infraestruturas.