Uma vida perdida, por falta de neurocirurgiões que não estiveram disponíveis para trabalhar ao fim de semana, e várias demissões. Este é, para já, o corolário da morte de David Duarte, de 29 anos, por rutura de um aneurisma, no Hospital de São José, em Lisboa.
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Colocaram os lugares à disposição o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro, e os administradores hospitalares Teresa Sustelo (Lisboa Central) e Carlos Martins (Lisboa Norte).
David Duarte morreu no Hospital de São José no passado dia 14, uma segunda-feira, devido à falta de neurocirurgiões, que, insatisfeitos com o valor que o Estado lhes paga pela prestação de serviço ao fim de semana, não realizaram a cirurgia para debelar o problema (rutura de um aneurisma). O caso de David Duarte tinha começado na sexta-feira anterior, quando deu entrada no Hospital de Santarém, por paralisia do lado lado direito e dificuldade em articular frases.
"Nos últimos anos, com os cortes que tivemos na área da saúde, estes hospitais não tiveram a possibilidade de ter recursos humanos para dar resposta a situações de doentes como este", admitiu Luís Cunha Ribeiro, acrescentando que este facto "não limpa" a morte do doente. O responsável da ARS adiantou que "foram tomadas medidas" para que situações análogas não voltem a acontecer.
Uma fonte do Hospital São José, citada pelo "Expresso", pronunciou-se no mesmo sentido: "Em janeiro, talvez já venhamos a ter equipa. Vão pagar mais, praticamente repondo a situação que existia antes dos cortes de 50% nas horas fora do horário normal".
Carta da companheira
Numa carta publicada na edição online do "Expresso", Elodie Almeida, companheira de David Duarte, historiou o caso, desde a ida, de ambulância, para o Hospital de Santarém, até à transferência, pelo INEM, para o Hospital de São José. Em Lisboa, na noite do dia 11, foi feito o ponto da situação: "Rutura de um aneurisma, com o sangue a espalhar-se pelo cérebro e a necessidade de tratamento imediato (leia-se cirurgia). Mas, conforme explicaram os médicos, como era uma sexta-feira e não haveria neurocirurgiões no fim de semana, a operação só poderia acontecer na segunda-feira seguinte, dia 14". Entre sábado e domingo, o estado de saúde do paciente piorou, tendo ficado em coma induzido. "Morte cerebral" foi o desfecho comunicado à família na segunda-feira.