A iniciativa de cantar os parabéns por um megafone de um carro de polícia para as varandas dos aniversariantes começou informalmente e espalhou-se pelo país quase à velocidade do vírus que nos obrigou a ficar em casa.
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PSP e GNR receberam dezenas de pedidos durante o estado de emergência e correram a levar bolos, ramos de flores e presentes a crianças e idosos nos seus aniversários.
Eram 17.30 horas quando o carro da PSP de S. João da Madeira chegou silencioso à Rua Oliveira Júnior. Estava tudo combinado com as amigas de Luísa, que comemorou hoje 7 anos. António Rodrigues, o agente do Programa Escola Segura que conta quase duas dezenas de parabéns cantados durante o isolamento, pergunta qual era a varanda. As amigas cá em baixo, explicam-lhe. Rodrigues, ou Tonecas como é conhecido popularmente, liga as sirenes e grita por Luísa ao megafone. Quando ela vem espreitar à varanda, todos cantam em uníssono os parabéns.
A pequena desce apressada e sai a medo da porta do prédio, de sorriso de orelha a orelha. Tonecas traz-lhe presentes e balões. Foi a amiga de Luísa, Raquel Chumbinho, quem pediu à PSP. "Já tinha visto e sabia que andavam a fazer isto aqui. Pedi à PSP e às pessoas mais próximas para virem. Este foi o último, porque agora as medidas de confinamento já acabaram", conta.
Até o comissário da PSP, Helder Andrade, se junta à "brincadeira" que começou em abril quando uma jovem de Ovar, durante a cerca sanitária que fechou as portas àquele concelho, lhes pediu para irem cantar os parabéns à prima, que vive em S. João da Madeira.
"Quando recebi esse pedido, reencaminhei para o comando distrital e eles deram autorização", conta o agente Tonecas. O vídeo do primeiro momento foi parar às redes sociais e a palavra espalhou-se. "Desde então, todos os dias recebia pedidos", diz. "A maior parte eram para crianças. Mas também cantámos a um senhor de 88 anos e a outro de 70. Foi muito giro", confessa o agente.
Todas as pessoas tinham que fazer um pedido formal ao Comando Distrital de Aveiro, só assim Tonecas poderia cantar os parabéns. Depois da autorização, combinava tudo com quem fazia o pedido.
"Para todas as crianças comprei uma prenda e ainda oferecia o bolo. Aos mais velhos, dava flores. O comandante acompanhou-me em grande parte destes momentos", relata.
O agente custeava ele próprio os presentes e bolos: "A brincadeira não me ficou barata. Mas valeu a pena. Os miúdos ficavam tão contentes porque não estavam à espera. A dada altura já eram eles próprios que, fazendo anos, perguntavam aos pais: será que o Tonecas me vem cantar os parabéns?".
Iniciativa fez-se sentir um pouco por todo o país
As iniciativas de parabenizar as pessoas em confinamento fizeram-se sentir um pouco por todo o país. Segundo o Gabinete de Imprensa e Relações Públicas da PSP, "foram surgindo informalmente, umas vezes a pedido de familiares ou amigos de pessoas, outras por conhecimento da própria Polícia". "Visaram geralmente pessoas que, pela sua tenra idade ou maior isolamento social mais iriam sentir a ausência da presença física de alguém nesse dia", esclarece a PSP, que garante ter feito um esforço para marcar presença em todos os momentos, contribuindo "para que o isolamento social fosse um pouco menos sentido".
Atendendo ao caráter informal destas iniciativas, não há uma contabilização total nacional. Da mesma forma, a GNR também não anotou todas as vezes que se deslocou a casa de aniversariantes para fazer o mesmo. Segundo o Gabinete de Imprensa da GNR, a iniciativa dirigiu-se essencialmente a população idosa e vulnerável.
"Da mesma forma que visitamos os idosos regularmente, no âmbito do policiamento de proximidade, também lhes cantamos os parabéns durante o isolamento, havendo essa disponibilidade. Até para lhes mostrar que a Guarda está cá para todas as circunstâncias", explica o gabinete, que acrescenta que grande parte dos aniversariantes eram já pessoas conhecidas dos agentes.
De acordo com a GNR, isso já acontecia ocasionalmente com idosos isolados ou crianças portadoras de deficiência, mas durante o confinamento tornou-se mais visível. E houve direito a ramos de flores e lágrimas.