A agricultura representou mais de 12% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa em 2020, não cumprindo a meta climática para esse ano. A tendência é que continue a aumentar, alerta a Zero. A associação ambientalista defende que a transição para dietas saudáveis deve ser o foco da política climática para a agricultura.
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Embora o Governo tenha relembrado, na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que Portugal cumpriu as metas nacionais no Acordo da Partilha de Esforços Europeu, o setor da agricultura tem aumentado as emissões anuais desde 2015, passando a representar mais de 12% em 2020, alertou, esta quinta-feira, a Zero.
Segundo a mais recente atualização do Inventário Nacional de Emissões por Fontes e Remoção por Sumidouros e Poluentes Atmosféricos (INERPA), a agricultura foi o único setor que não cumpriu a sua meta nacional para 2020, de reduzir 8% das emissões face às registadas em 2005, como previsto no Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC).
Além disso, a associação ambientalista sublinhou que as emissões decorrentes da agricultura já excederam o próprio ano de referência desde 2017. A tendência é que aumentem e o setor está em risco de falhar a meta de reduzir 11% para 2030, estabelecido no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC). Para a cumprir seria necessário cortar mais de 14% das emissões durante uma década, aponta, a Zero, num comunicado enviado às redações.
O inventário revela que a maioria das emissões ligadas à agricultura provém da fermentação entérica (51%) (resultante da digestão dos animais ruminantes), sobretudo do gado bovino, e do uso dos solos agrícolas (32%), bem como da gestão de efluentes pecuários.
A Zero defende que a situação de Portugal "reflete o fracasso europeu no controlo das emissões agrícolas", cujos investimentos em ação climática, nomeadamente por via da Política Agrícola Comum (PAC), não tiveram resultados relevantes. A associação ambientalista entende que a transição para dietas saudáveis deve ser a solução a adotar, uma vez que poderá reduzir entre 29-37% das emissões de gases com efeito de estufa e beneficiar a população em termos de saúde, "permitindo inclusivamente poupanças no Sistema Nacional de Saúde [SNS]".