Emídio Sousa procura renovação de maioria absoluta para um terceiro mandato. Oposição reclama renegociação de contratos de concessão julgados prejudiciais ao concelho.
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Demografia, habitação, mobilidade, emprego, coesão social, administração e organização territorial concentraram as atenções dos candidatos à Câmara de Municipal de Santa Maria de Feira. No debate promovido pelo JN, a concessão da água e do estacionamento no centro histórico da cidade foram os temas mais fraturantes e os que geraram a maior contestação ao social-democrata Emídio Sousa, que aposta num terceiro e último mandato. O candidato do Chega, Miguel Cruz, confirmou a presença e não compareceu, e o do CDS, Alecsander Pereira, não respondeu aos convites.
O território que o PSD domina sem partilha desde as eleições de 1976 é ´o do mesmo município que volta às urnas, a 26 deste mês, para a mais do que previsível reeleição de Emídio Sousa. Alvo da contestação de outros quatro candidatos, como se verificou no debate decorrido, ontem, no Ateneu Comercial do Porto, o autarca "laranja" avisa que "não é fácil gerir" um concelho com a dimensão social e geográfica de Santa Maria da Feira e confia que os feirenses lhe reconhecem "competência". "É isso que está em causa", sublinhou o recandidato, que, em 2017, obteve uma vitória com ampla vantagem sobre a oposição, com 36 383 votos (50,48%) e sete vereadores eleitos.
interesses públicos
Emídio de Sousa foi confrontado, designadamente, com a concessão da rede de distribuição de água à Indaqua e do estacionamento no centro da cidade à P Parques. "É uma gestão desastrosa", denunciou Isabel Gomes, da CDU. "Os custos não podem impedir a reversão do contrato. Não se deve valorizar o interesse privado em detrimento do interesse público", adiantou a candidata da coligação PCP/PEV.
"O PS entende que existem condições para renegociar o contrato, na defesa dos interesses das populações. Há casos de pessoas que estão a ser notificadas para contraordenações e que nem sequer estão ligadas à rede de água", acrescentou o candidato socialista, Márcio Correia.
"pleno emprego"
"Desde que haja rede à porta, e mesmo que as pessoas só usem água dos poços, é obrigatório ligar à rede, é de lei, por decreto de 2009. E desde que a Indaqua cumpra não se pode mudar um contrato por dá-cá-aquela-palha", adiantou o autarca, que se gabou de ser "reconhecido, nacional e internacionalmente, pela diplomacia económica que conduziu ao pleno emprego no concelho e pelos parques industriais que são dos melhores do Mundo".
"Pleno emprego? Mas que emprego? Mas que tipo de trabalho? Trabalho precário, o que ocupa 40% dos trabalhadores do município que não ganham para fazer face às despesas", questionou Bárbara Pinto, do Bloco de Esquerda.
"O modelo de desenvolvimento continua muito agarrado às industrias tradicionais, algumas até com sucesso, mas o município precisa de diversificação, sobretudo na área das novas tecnologias. A aposta no 5G e um cluster de inteligência artificial é essencial", interveio Carla Abreu, da Iniciativa Liberal.
O recandidato do PSD cumprimentou e felicitou os concorrentes pela "nobreza democrática do debate", mas observou-lhes que "não é nada fácil gerir o concelho da Feira".
"Gerir um concelho com Santa Maria de Feira - insistiu Emídio Sousa -, governar um município com um orçamento de 70 milhões de euros, 1650 quilómetros de estradas, 150 escolas, 53 IPSS e que é, com mais de 16 mil empresas, um dos dez maiores em termos de produção de bens transacionáveis, não é tarefa para qualquer um".
O tamanho da empresa não desanima a oposição ao candidato do PSD: "Está na altura de mudar", diz Bárbara Pinto, do Bloco; "Estamos todos fartos desta forma de fazer política. Devemos exigir mais e melhor", concluiu Carla Abreu, da Iniciativa Liberal.
"Feroz especulação" imobiliária e salários baixos
Habitação, emprego e ambiente entre as prioridades do município
Se os contratos de concessão da água e dos parques de estacionamento automóvel são os temas que suscitam maior antagonismo político, nem por isso os candidatos deixam de elencar um sem-número de preocupações para o concelho de Santa Maria da Feira, designadamente nas áreas do ambiente, da habitação e da fragilidade dos rendimentos do trabalho e das famílias.
"Os trabalhadores do município de Santa Maria da Feira ganham, em média, 900 euros brutos por mês, 200 abaixo da média nacional", verifica o candidato do PS, Márcio Correia. "Estamos a desenvolver, a par do Instituto Superior de Engenharia do Porto, um plano estratégico que já nos dá condições para atração de mão de obra mais qualificada e mais bem paga", disse o presidente da Câmara.
Problema: "a crescente e feroz especulação imobiliária", denunciada por Isabel Gomes (CDU), que lamenta a perda de 2859 habitantes em dez anos (136 720, contra 139 309 em 2011). "Através da isenção de taxas, o município deve ter capacidade para incentivar as empresas para as boas práticas laborais, na defesa dos trabalhadores", acrescenta a candidata da coligação PCP/PEV.