Os gastos com anti-histamínicos em 2018 ascenderam a 32 milhões de euros. O consumo aumentou 10% desde 2014. A prevalência da doença está a crescer e a população está mais informada. Sintomas disparam na primavera.
Corpo do artigo
A primavera está aí e as alergias parecem não parar de aumentar, bem como o número de medicamentos vendidos, com e sem receita médica. No ano passado, os portugueses gastaram 32,19 milhões de euros com anti-histamínicos, que corresponderam à dispensa de 5,92 milhões de embalagens, de acordo com os dados da consultora IQVIA facultados ao JN. Desde 2014 que o consumo é crescente, tendo subido 10,2%.
Pedro Carreiro-Martins, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), confirma que, "ao longo dos anos, o número de pessoas com alergias tem vindo a aumentar". Mas, por outro lado, as alergias também "têm apresentado maior gravidade". Há ainda outros fatores que, de acordo com o médico, podem contribuir para o crescimento do consumo destes medicamentos: a população está mais consciente dos problemas alérgicos e também de que existem fármacos "capazes de prevenir e aliviar os sintomas".
Espirros, comichão no nariz e olhos, corrimento nasal, lacrimejo e nariz entupido são alguns dos sintomas que afetam por esta altura milhares de pessoas, uma vez que é nos meses de inverno e da primavera que os doentes sofrem mais.
40% da população sofre
"Sem dúvida que, nas últimas décadas, assistimos a um aumento das doenças alérgicas", sublinha, por seu lado, o alergologista pediátrico Libério Ribeiro. "Na Europa, 40% da população teve ou terá uma doença alérgica, mercê da poluição, do estilo de vida, de viver mais no interior da casa, do tipo de alimentação". Além disso, revela, "a automedicação é cada vez mais frequente, potenciando este elevado consumo de anti-histamínicos".
Nos últimos dois anos, os meses de janeiro, abril, maio e dezembro de 2017, e os meses de janeiro maio, junho, outubro e dezembro de 2018, foram aqueles que levaram mais pessoas a procurar anti-histamínicos nas farmácias. No mês de maio, a venda de embalagens foi a mais elevada, 650 mil, que corresponde a uma média de 20 mil caixas por dia.
É no mês de maio que a polinização é maior, daí a maior prevalência de sintomas e consequente consumo de anti-histamínicos. Geralmente, quanto mais chover no inverno anterior, maior será a carga polínica na primavera seguinte, esclarece Libério Ribeiro.
De acordo com este especialista, é na primavera que a prevalência de sintomas é maior para quem sofre de alergias a pólenes. Os sintomas no outono, inverno e pré-primavera, são mais frequentes em quem tem alergia a ácaros (pó da casa). No tempo frio, as infeções são mais prevalentes, o que agrava a sintomatologia nessa época.
"Habitualmente, os meses de abril e maio são os que apresentam maiores picos polínicos ao longo do ano, facto que também se observou no ano de 2018", prossegue Pedro Carreiro-Martins, que também pertence à direção do Colégio de Imunoalergologia da Ordem dos Médicos.
Pólenes e rinites
Na primavera, "o maior número de pólenes presente na atmosfera desencadeia queixas de rinite alérgica nas pessoas que estejam sensibilizadas a esses pólenes", o que explica os picos nos meses de abril a junho. Já o pico do inverno "coincide com o de maior atividade dos vírus respiratórios, o que leva a pensar que este aumento de consumo esteja associado à existência de queixas de rinite de causa infeciosa". No entanto, frisa, poderão existir outras explicações relacionadas com a presença de alergias.
Para este ano, ainda não é possível perceber se as condições atmosféricas vão ser mais agressivas. "Se chover pouco, poderá existir menor germinação das plantas e menos polinização", sublinha.
Conselhos
Férias programadas
Para evitar o contacto com um pólen específico, as férias devem ser programadas em regiões de baixas contagens polínicas, como a praia ou a neve.
Evitar ar livre
Se as concentrações de pólenes forem muito elevadas, devem evitar-se as atividades ao ar livre, como os passeios em jardins, cortar a relva ou a prática de desporto na rua.
Janelas fechadas
Em casa, deve-se manter as janelas fechadas, quando a concentração for elevada. As viagens de carro devem ser feitas com janelas fechadas, para se reduzir o contacto com os pólenes. Os motociclistas devem usar capacete integral.
Óculos escuros
A utilização de óculos escuros na rua ajuda a evitar as queixas oculares.
Mais dados
530 mil embalagens de anti-histamínicos foram vendidas em fevereiro de 2019. Representam um aumento de 10,6% em relação às caixas vendidas em fevereiro de 2018 (480 mil), de acordo com o relatório que a consultora disponibiliza online.
Boletim Polínico
A SPAIC recomenda que se consulte o Boletim Polínico, emitido por esta instituição, para se ficar a saber se as concentrações dos pólenes no ar são baixas, moderadas ou elevadas.