Desta vez, o aviso vem de dentro. A Direção-Geral da Saúde (DGS) alerta para um "aumento da indisponibilidade dos recursos humanos" no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no próximo outono-inverno e recomenda a contratação de profissionais, a sua formação e melhoria das condições de trabalho. Ordem e Sindicato Independente dos Médicos saúdam o reconhecimento da "situação crítica" que se vive nos hospitais por um organismo do Estado.
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O aviso surge num documento com as linhas orientadoras da DGS para a covid-19 e outros vírus respiratórios, que está a recolher contributos de vários parceiros.
"De um modo geral e transversal a todos os níveis de cuidados, é expectável, no outono-inverno, um aumento da indisponibilidade dos recursos humanos", refere a DGS.
Tal indisponibilidade será "condicionada por períodos de férias e descanso, rotatividade entre os profissionais, exposição cumulativa a outros vírus respiratórios e à infeção por Sars-Cov-2 (isolamento) e ausências adicionais por assistência a familiares".
Assim, a DGS recomenda que sejam melhoradas as condições de trabalho dos profissionais e "considerado o recrutamento de recursos humanos" e a sua "formação no âmbito das respostas às necessidades de saúde da população".
"É de saudar que a DGS faça um relatório transparente, que não oculta os problemas", elogiou o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Para Jorge Roque da Cunha "é óbvio" que, com as reformas previstas este ano, com o aumento exponencial das saídas de médicos do SNS, e com mais de oito milhões de horas extraordinárias, as dificuldades iam aumentar.
"Infelizmente até há uns meses, o discurso oficial era de que estava tudo bem e que tinham sido contratados uns milhares de médicos", criticou, na esperança de que "este alerta interno seja um incentivo para as negociações".
Negociação sem data
Roque da Cunha lamenta que o protocolo negocial, que estabelece os temas a negociar com a tutela, só tenha sido assinado na última sexta-feira e que o ministério ainda não tenha feito chegar aos sindicatos qualquer proposta.
A primeira reunião negocial também não está agendada, adiantou.
"Há muitos recursos humanos em falta, não só na Ginecologia / Obstetrícia, e a DGS tem noção disso. O alerta que faz é importante e mostra que algo tem de mudar no SNS", salientou Miguel Guimarães, ressalvando que ainda não leu o documento.
Vacinação simultânea
As campanhas de vacinação contra a gripe sazonal e a covid-19 vão decorrer em simultâneo, através da coadministração das doses, para aumentar a adesão, refere a DGS no plano para o outono-inverno. Devem começar a 5 de setembro, mesmo se ainda não tiverem chegado as vacinas adaptadas à variante Ómicron.
Vigilância integrada
Tal como recomendado pelos peritos, a DGS propõe uma vigilância integrada de infeções respiratórias, que incluem o Sars-Cov-2, vírus da gripe, vírus sincicial respiratório e outros. A incidência passa a ser estimada com base em registos de saúde e em amostras de uma rede sentinela.