Ex-gestora diz que tentou devolver dinheiro por três vezes. Deixa em aberto que a sua saída possa dever-se à recusa em contratar empresa do marido da CEO.
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Alexandra Reis disse estar, desde 7 de março, à espera que a TAP lhe indique o montante exato da indemnização que tem de devolver e já tentou devolver o dinheiro à companhia por três vezes. A antiga administradora da empresa, que foi ouvida na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, garante que aceitou sair "com total boa-fé". Não entende os motivos pelos quais a CEO quis afastá-la, deixando em aberto que isso possa ter ocorrido por ter mandado bloquear negócios com a Zamma Technologies, empresa do marido de Christine Ourmières-Widener.
Alexandra Reis reiterou que pretende devolver a fatia dos 500 mil euros que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) considerou que deveria ser restituída, apesar de não concordar com essa avaliação. A gestora informou que os seus advogados contactaram a TAP no passado dia 7 de março, "logo na manhã seguinte" à divulgação do parecer da IGF. O objetivo era apurar quais os montantes líquidos que terão de ser devolvidos.
"Desde esse dia até hoje, e apesar das insistências feitas - três, pelo menos -, continuo a aguardar essa indicação, para que possa proceder à devolução", afirmou. Ainda assim, disse estar convencida de que teria direito a uma indemnização. Alexandra Reis assegurou, também, que teria renunciado aos cargos "sem contrapartida", caso o então ministro ou secretário de Estado das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos e Hugo Mendes, lho tivessem pedido. Na audição, revelou que, em 2021, colocou o lugar à disposição do ministro, na sequência da saída do acionista Humberto Pedrosa.
Não falou com medina
Questionada sobre se, a seu ver, o facto de ter bloqueado negócios com a empresa do marido da CEO poderia ter estado na origem do seu afastamento, Alexandra Reis disse nunca ter falado com a sua superior a esse respeito. "A CEO nunca me fez comentários sobre esse tema", vincou, confirmando ter instruído a sua equipa no sentido de que não houvesse "nenhuma contratação" com a empresa.
A gestora reconheceu ter tido divergências com a CEO, nomeadamente sobre a mudança de sede da TAP. "Mostrei sempre imensas reservas", relatou, já que, na sede atual, a companhia não paga renda. Além disso, embora as instalações sejam antigas, continuam "perfeitamente funcionais".
Alexandra Reis disse ter notado um "sentido de urgência", da parte da CEO, em demiti-la, sublinhando que ficou com a sensação de que a pressa se devia à incerteza gerada pelas eleições legislativas, que ocorreriam a 30 de janeiro.
A gestora confirmou que foi o ministro das Finanças que a convidou para secretária de Estado do Tesouro, função que desempenhou até ter rebentado o caso da indemnização. Assegurou não ter falado com Fernando Medina sobre "o processo de saída da TAP nem sobre a indemnização".
Revelação
Motorista que denunciou CEO quase foi demitido
A ex-administradora da TAP revelou que a CEO quis demitir o motorista que falou sobre o uso do carro da empresa ao serviço de Ourmières-Widener para transportar familiares desta. Ainda segundo a gestora, Ourmières-Widener exigiu, a 21 de dezembro de 2021, o despedimento do motorista que a denunciou, justificando com a falta de vacinação contra covid-19 - o que acabaria por não acontecer.
Alexandra Reis frisou, ainda, que se sentia desconfortável com a contratação de novos diretores franceses - a nacionalidade da CEO - para a TAP, devido aos custos elevados. Alguns deles "não escondiam" a proximidade com Widener, garantiu.