Alguns professores que organizaram desfiles de protesto contra os problemas que afetam a profissão estão a ser chamados às esquadras da PSP, na sequência de uma alegada queixa-crime por desobediência apresentada ao Ministério Público. A denúncia foi feita no blogue "O meu quintal", por Ana Martins, docente do Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos, em Oeiras, que encara esta situação como uma forma de silenciar os docentes.
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"Quando cheguei à PSP de Porto Salvo, o agente perguntou-me se era sindicalizada ou se tinha sida mandatada por algum sindicato", conta Ana Martins ao JN. "Disse-lhe que não, que eram movimentos espontâneos de professores." De seguida, o polícia pediu-lhe para explicar se tinham feito uma manifestação ou uma marcha. "Respondi "uma caminhada" porque se dissesse uma marcha estaríamos a incorrer num crime, porque só se podem organizar a partir das seis da tarde."
A docente manifesta estranheza por ter sido chamada à PSP, tal como colegas de outras escolas do concelho que organizaram a ação de protesto até à Câmara de Oeiras (CMO), a 16 de janeiro, porque informaram a polícia e a autarquia.
Polícia cortou trânsito
"Como não recebemos resposta da PSP, decidimos concentrar-nos à porta da escola", assegura. Contudo, entretanto, chegaram agentes que definiram o trajeto e lhes pediram para irem pelo passeio. "Quando nos encontrámos com colegas de outra escola numa rotunda, acharam melhor irmos pela via pública e cortaram o trânsito", relata. "Foram extraordinários, mas se nos estão a acusar de desobediência, também os têm de acusar a eles."
"Isto é um atentado ao nosso bom nome, honra, dignidade e liberdade", afirma Ana Martins. "É uma forma intimidatória de acabar com a espontaneidade dos professores, para que se voltem a calar", sublinha. "Já quando foram as manifestações em Lisboa houve uma série de autocarros parados e vistoriados. São manobras que não são fortuitas."
Em comunicado, a CMO confirma que tomou conhecimento de um "inquérito do Ministério Público, no âmbito das recentes greves e manifestações dos professores do concelho de Oeiras, que estão a ser notificados pelas autoridades para prestar declarações". E garante que foi devidamente informada e que os "manifestantes foram inclusivamente recebidos pelo presidente da Câmara".
O JN questionou a Direção Nacional da PSP, mas não obteve resposta em tempo útil.