Há dois pedidos de licenciamento para quintas de criação de insetos, no Norte e no Centro.
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Ainda são consumidos por um nicho de mercado, mas a procura "superou as expectativas iniciais" na chegada às prateleiras dos supermercados. Snacks, barras proteicas e chocolates feitos à base de insetos estão à venda há cerca de cinco meses em Portugal e, em algumas lojas do Continente - o primeiro retalhista a vender os produtos -, as unidades previstas para três meses venderam-se em apenas um. Cerca de 12% dos clientes repetiram ainda a compra. No Auchan, tem-se "verificado um aumento na procura". Os produtos são confecionados em território nacional, pela Portugal Bugs, e feitos com matéria-prima vinda da União Europeia, uma vez que "ainda não foi licenciada qualquer exploração de insetos de criação para a alimentação" em Portugal. Mas há interessados.
O Ministério da Agricultura dá conta de que, no ano passado, foram feitos dois pedidos de licenciamento para explorações de produção de insetos. Um no Norte e outro na região Centro. Em curso está ainda "um processo de licenciamento de uma empresa que pretende produzir insetos" para "posterior transformação em farinha destinada à alimentação animal". A empresa Tecmafoods, sediada em Matosinhos e que pertence a Vasco Esteves, admitiu ao JN que vai pedir licença para produzir farinha de inseto destinada ao consumo humano.
Sete Espécies
Em Portugal, desde junho, há sete espécies de insetos autorizadas para consumo humano, entre as quais grilo, besouro, larvas e gafanhoto. Das grandes cadeias de supermercados contactadas pelo JN, apenas o Continente e a Auchan têm produtos à venda. No entanto, Lidl e Intermarché não fecharam a porta à futura comercialização destes alimentos.
O Continente foi o primeiro retalhista a vender os produtos. Os alimentos estão disponíveis em 10 hipermercados, sendo as barras proteicas as mais vendidas. "Os produtos da Portugal Bugs têm registado níveis de vendas positivos, superando as expectativas iniciais", disse a Sonae, admitindo porém "alguma renitência do cliente para incluir os produtos no carrinho de compras".
Indústria do inseto
Já a Auchan, que vende estes produtos desde outubro, tem registado "um aumento na procura". A marca faz parte do consórcio de 38 empresas e centros de investigação, designado Agenda InsectERA, que quer "colocar Portugal na vanguarda da indústria dos insetos" e "desenvolver a industrialização, comercialização e exportação de produtos inovadores à base de insetos", criando "soluções para a área alimentar, da cosmética e dos bioplásticos, bem como para o setor da biorremediação.
Guilherme Pereira, presidente da associação Portugal Insect, traça o retrato de um setor que está a dar os primeiros passos. "Os insetos, neste momento, são um mercado de nicho. São consumidores que procuram alimentações saudáveis e sustentáveis e, ao mesmo tempo, têm uma alimentação flexível", referiu Guilherme Pereira, que também é um dos fundadores da Portugal Bugs.
Num setor que dá os primeiros passos, Guilherme Pereira detalha algumas dificuldades: "Na área produtiva, estamos no início da aprendizagem. Cometem-se erros nesta fase que acabam por nos fazer voltar à estaca zero". Depois, diz, "existe um outro entrave": a escala de venda.
"Para a alimentação animal, o custo de produção dos insetos ainda é muito elevado para competir com outras fontes alimentares. A alimentação humana, como é recente, também não é mercado que peça grandes quantidades de matéria-prima".
Benefícios
Comer insetos, "uma alternativa sustentável"
Guilherme Pereira não tem dúvidas: os insetos são "uma alternativa sustentável" a nível nutricional e ambiental. A sua criação não exige "grandes áreas de exploração", são "proteínas de excelente qualidade", produzem menos gases de efeito de estufa e "são excelentes conversores de coprodutos, ou seja, desperdício da indústria alimentar". "A ideia não é deixarmos de comer francesinhas ou a posta à mirandesa. A ideia é dizer que temos aqui uma solução e que, ao optarmos por ela de vez em quando, vamos ajudar a que o nosso impacto no Mundo seja mais reduzido", frisou.
Números
6 mil unidades vendidas até novembro passado
Até à última semana de novembro, nas 10 lojas Continente com produtos alimentares à base de inseto, foram vendidas mais de seis mil unidades.
Barras mais vendidas
As barras cruas da Portugal Bugs são as mais vendidas nas lojas Continente. Segundo a Sonae, o produto inclui "insetos na sua composição, mas estes não são visíveis no produto final, o que poderá facilitar a adesão dos consumidores" às mesmas.