Um corrupio de gente de bata branca, vários laboratórios de um branco assético e as insondáveis designações de Biotecnologia, Microbiologia e Engenharia Alimentar parecem remeter o comum dos mortais para outra dimensão. Para muitos, indecifrável e longínqua como ter grilos no prato, um futuro que ali já se antecipa.
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Mas, por mais alheio que à primeira vista pareça, o que, na verdade, todos os dias acontece perto da Praça do Império, na Foz, no Centro de Biologia e Química Fina (CBQF) da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica - que está a assinalar os 30 anos do curso de Engenharia Alimentar -, reflete-se no quotidiano da população e, em boa medida, acaba nas mesas de todos, já que os investigadores têm como missão "encontrar novos ingredientes mais saudáveis e ajudar as empresas a produzir alimentos mais equilibrados do ponto de vista nutricional, com o melhor sabor, ambientalmente mais corretos e sempre seguros", como explica Manuela Pintado, que dirige o laboratório criado em 1991.
"O que fazemos é responder aos desafios atuais da alimentação", resume a investigadora, revelando que o centro está agora apostado em trabalhar com proteína de inseto, designadamente de grilo. "A tendência é fazermos novos produtos a partir da farinha de inseto. É o futuro", aponta, lembrando que "as fontes de alimentos estão a esgotar-se" e que "a proteína é escassa". Daí que o CBQF já registe a procura de empresas que querem trabalhar com insetos, "o que há uns anos seria impensável", indica Manuela Pintado, sublinhando que "cada vez mais se vai demonstrar que o inseto é uma fonte equilibrada de proteína; só é preciso torná-la sensorialmente atrativa".
"O que temos tentado fazer é mostrar que é facilmente digerível e que liberta um conjunto de aminoácidos essenciais e importantes para a alimentação. Portanto, o valor nutricional está a demonstrar-se claramente, e o teor de proteína é bastante alto: varia entre 40% e 60%".
Paula Teixeira é outra investigadora do Centro de Biologia e Química Fina, e no seu laboratório de Microbiologia Alimentar aponta exemplos mais familiares para os consumidores: procura, entre outras pesquisas, "reduzir a utilização de conservantes químicos", através de "culturas de bactérias bioprotetoras", cuja função é "controlar as bactérias patogénicas, que causam doenças, como as famosas "intoxicações" alimentares", explica a cientista, que aplica a técnica em "produtos fermentados, como queijos e enchidos".
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Embalagem - Formada em Engenharia Química, a investigadora Cristina Silva está entre os profissionais que se dedicam à área da embalagem, desenvolvendo estudos que permitam chegar à "embalagem mais adequada para um produto".
Leguminosas - Face a um previsível cenário de escassez de fontes proteicas, a investigação na área alimentar centra-se também na busca de alternativas. A aposta-se passa pelas leguminosas.
Revalorizar perdas - Com algumas indústrias a registarem perdas de matéria-prima boa na ordem dos 50% e, até, 60%, uma das funções do CBQF é "criar novos alimentos com essas sobras", explica a diretora do centro. Ambiente
Ambiente - O CBQF também atua ao nível da qualidade e tecnologia ambiental, nas áreas da resistência a antibióticos no ambiente e tratamento de águas residuais e resíduos biológicos, entre outras.
30 anos - A Licenciatura em Engenharia Alimentar surgiu em 1984, com a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. Os primeiros alunos formaram-se há 30 anos.
Trabalho multidisciplinar ligado à indústria
A diretora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) destaca "uma ligação fortíssima com a indústria", e realça o trabalho "multidisciplinar" deste que é um Laboratório Associado desde 2004 e que "colabora com todos os setores agroalimentares, como laticínios, bebidas, carnes, peixes...". "Mais de 60% dos projetos são com empresas", aponta a investigadora.