"Não são filhos de doutores e engenheiros e não têm explicações ou andam em escolas de línguas, como acontece com muitos jovens nas cidades. São filhos de operários, pescadores e agricultores que trabalham bastante, com o apoio dos professores, para poderem ter as notas que têm".
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É o diretor da Secundária da Murtosa, Manuel Arcêncio, que define os seus alunos de fibra que, não nascendo em "berço de ouro", fizeram da escola a quarta melhor pública do país nos últimos exames de Português do 12.º ano.
Foram poucos mas bons. Dezoito fizeram o exame de Português, com notas que oscilaram entre os 15 e os 19. Manuel não lhe quer chamar "tropa de elite" porque de elite, diz, "não têm nada", mas a expressão faz sentido por não refletir a realidade total da escola, que tem 700 alunos, entre o 5.º e o 12.º ano.
Num meio de gente humilde, que vive da pesca e da agricultura, são poucos os que chegam ao fim. No ano passado, apenas havia uma turma do 12.º ºano com 30 alunos, dividida entre Humanidades e Ciências. "Mas os que ficam são alunos excecionais, que sabem o que querem e trabalham para entrar nos cursos com que sonham. Desses 30 só um não entrou na primeira opção", diz o diretor.
Não há bons alunos sem bons professores, por isso Manuel destaca a professora de Português, que os acompanhou do 10.º ao 12.º ano, Alda André, que este ano quis ir ensinar para Timor, num programa de apoio do Governo português. "É uma professora à antiga, no bom sentido do termo, sempre disponível para os alunos, mas muito exigente". Daí que as notas internas sejam idênticas às dos exames. "Aqui não inflacionamos notas, não temos alunos de 18 na escola e 12 no exame". v