Reduzido número de inscritos e imposição de um mínimo de dez alunos para atribuir professor obrigam a formar turmas mistas. Há estudantes da disciplina de Tecnologias que são obrigados a partilhar teclados e rato ou a ter aulas sem equipamento.
Corpo do artigo
A lógica de funcionamento em "turmas-bolha", recomendada pelo Ministério da Educação, está a ser subvertida nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica. São poucos os alunos que escolhem esta disciplina opcional, pelo que as escolas são forçadas a juntar na mesma sala jovens de turmas diferentes. A criação de turmas mistas pode aumentar o número de jovens mandados para casa em quarentena preventiva, caso algum fique infetado com covid, como já aconteceu no Liceu Francês do Porto.
A disciplina é facultativa para os alunos, mas obrigatória para as escolas. Significa que se pode inscrever uma mão cheia de alunos de cada turma. Como o Ministério da Educação só atribui professor a turmas com dez ou mais inscritos, as direções das escolas são forçadas a juntar alunos de várias turmas, afirmaram ao JN os dois presidentes de associações de diretores, Manuel Pereira (ANDE) e Filinto Lima (ANDAEP).
"Estamos a trabalhar com as orientações de anos anteriores, que não foram alteradas com a pandemia", diz Manuel Pereira, que também é diretor do agrupamento de Cinfães. Na sua escola, não recebeu protestos de pais e encarregados de educação ("confiam na escola"), mas admite que as turmas mistas adulteram a recomendação do Ministério: as escolas devem isolar as turmas, assegurando que cada uma não contacta com as restantes em momento algum, dentro da escola.
Filinto Lima confirma a junção numa só de alunos de várias turmas, apesar da recomendação de separação emanada do Ministério, e assegura que os diretores se esforçam por lhes alocar salas grandes, onde o distanciamento entre eles pode ser maior.
Educação invoca distância
É precisamente esse o argumento invocado pelo Ministério da Educação. "A dimensão das turmas que resultam da junção é, na generalidade dos casos, menor do que nas restantes turmas, o que permite um maior distanciamento entre alunos", diz fonte oficial. Acrescenta que "os pedidos de junção de turmas são formulados pelas escolas, através dos secretariados diocesanos".
Os professores podem ser leigos, mas têm que ser aprovados pela Igreja Católica. Além de formação em Teologia ou Ciências Religiosas, têm que levar "uma vida cristã coerente e comprometida eclesialmente" e "assumir as orientações diocesanas e nacionais", lê-se no site da diocese de Aveiro.
Sindicatos contra regra
"O que se passa nas aulas de Moral viola as mais elementares regras de segurança", acusa Mário Nogueira, da Fenprof. As escolas, diz, "fazem tudo para minimizar o risco, mas batem de frente contra as imposições do ministério".
João Dias da Silva, da FNE, esclarece que as escolas tentam colocar a disciplina no início ou no final do dia de aulas, para evitar "furos", e também lamenta que as orientações de separação das turmas sejam quebradas "para não se contratarem mais professores".
Takeaway procura evitar concentrações
Para diminuir o número de alunos concentrados nas cantinas das escolas, minimizando o risco de contágio, este ano letivo, entre outras medidas, há alargamento dos horários de almoço e a implementação do serviço de takeaway para os alunos que só têm aulas durante a manhã.
A opção está a ser adotada por inúmeras escolas que não têm espaço para criar o distanciamento necessário na cantina. É o que acontece na Escola Secundária de Lousada, com 1200 estudantes. "Todos os alunos que não têm aulas da parte da tarde têm esta oferta. Levam o almoço para casa para não sobrecarregarem a cantina e para não perderem os transportes e ficarem aqui a tarde toda", explica Filipe Silva, diretor do Agrupamento de Escolas de Lousada. Essa é também a garantia de que os alunos vão ter pelo menos uma refeição saudável por dia.
Circuito próprio
Na escola, foi criado um circuito próprio para recolha. Aos alunos basta tirar a senha específica para takeaway no dia anterior, levando para casa o pão, sopa, refeição e sobremesa, tudo embalado no próprio dia.
O sistema ainda está a ser dado a conhecer aos alunos. "Estamos a passar a mensagem e a procura está a aumentar. Até ao final da semana, acredito que vamos ter um número significativo a usar o takeaway", adianta.
Potencialmente, entre 800 a 1000 alunos desta escola poderiam optar por levar a refeição para casa. Luana Rocha, de 17 anos, e Daniela Oliveira, de 14, preferiram fazê-lo. "É mais prático, porque assim, em casa, já não tenho de fazer o almoço. Prefiro não almoçar na cantina por prevenção e por algum receio da covid", refere Luana. "Antes, comia na escola todos os dias. Agora, nos três dias por semana em que só tenho aulas de manhã, vou levar almoço", garante Daniela.
Para tranquilizar os pais, o agrupamento dotou as cantinas de seis das sete escolas que o integram com divisórias nas mesas para criar barreiras entre cada estudante. "A ideia é que os alunos não tenham contacto direto na hora de almoço, quando estão sem máscara", diz Filipe Silva. Ainda assim, para já, tem havido uma quebra na procura da cantina.
Várias escolas do Porto implementaram o regime de takeaway, devido à limitação das cantinas. Mas há alunos que ao invés de levar a refeição para casa a comem na escola, contrariando as regras.
Um dos exemplos, dados pela Lusa, é a Escola Básica e Secundária de Canelas, em Vila Nova de Gaia, com 1800 alunos. "Um aluno que tinha takeaway quis comer na escola e andava a cirandar junto da cantina em "busca de um garfo"", referiu o diretor Artur Vieira. Levou um recado para o encarregado de educação. Nesta escola, este serviço liberta espaço na cantina agora com "140 lugares", em vez dos "600 lugares pré-covid-19".
Também na Escola Fontes Pereira de Melo, no Porto, terá havido alunos que levantaram a comida embalada, mas optaram por consumi-la no recinto escolar, levando a escola a lançar um apelo. Alunos relataram que a fila da cantina "é a mesma para ir buscar o takeaway", o que causa demoras.