Os alunos portugueses a frequentar o Ensino Superior são os que mais dependem financeiramente da família face aos seus colegas europeus. São também dos que menos apoios do Estado recebem.
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Os rendimentos próprios de trabalho são pouco expressivos e a carga horária letiva é das mais elevadas. Assim são as condições de vida dos nossos estudantes e que serão hoje debatidas, em Lisboa, na Convenção do Ensino Superior 2020-2030, na presença de reitores, governantes, especialistas e alunos.
A análise é feita pela investigadora Susana da Cruz Martins tendo por base o projeto Eurostudent, que conta com a participação de 28 países sendo coordenado, em Portugal, pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE. "Mais de 70% do rendimento que os estudantes têm disponível para a sua vida vem da família, sendo assim o país da União Europeia onde a dependência é maior", explica ao JN professora do CIES. A par de países como a Hungria e a Roménia, "onde as condições de vida dos estudantes são mais difíceis".
A que não é alheio o facto, adianta, de serem também dos alunos europeus que menos apoios estatais recebem, valendo uns parcos 6%, contra, por exemplo, 52% na Dinamarca e 41% na Suécia. Quanto a rendimentos fruto do próprio trabalho, os alunos portugueses são os que menos horas dedicam ao trabalho. O que pode ser explicado, frisa a socióloga, com o facto de terem a carga letiva mais elevada face aos restantes países europeus analisados.
Um "acesso muito desigual" com impactos no percurso académico. De acordo com o relatório, ´que analisa dados de 2017, 7% dos nossos estudantes interromperam os seus estudos. E as dificuldades financeiras foram o principal motivo apontado por 40,9% destes alunos, o que nos coloca no topo da tabela. Seguem-se a falta de motivação (34,6%) e o emprego (28,1%).
Reforçar os apoios
Se é certo que "boa parte da autonomia dos estudantes se faz ou por via do suporte público ou por via do trabalho", fica claro para Susana da Cruz Martins que "as políticas de intervenção e apoio público devem ser reforçadas". Com vista, sublinha a investigadora, ao "reforço da autonomização, com mais bolsas e mais financiamento", aliviando a carga das famílias.
Para o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, que organiza a Convenção, urge, por isso, "criar uma agenda" para o Ensino Superior. "Sessenta por cento dos estudantes não vão para a universidade. Porquê? Como os podemos atrair? Que tipo de apoios sociais? Como vamos modernizar as instituições? Com que financiamento?", questiona António Fontaínhas Fernandes. As respostas, essas, aguardam-se para o dia de hoje.
Convenção
Organizada pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a Convenção do Ensino Superior 2020-2030 dá hoje o pontapé de saída, em Lisboa, numa conferência que contará no seu encerramento com o presidente da República. Esta primeira sessão tem como objetivo central definir estratégias para aumentar o número de estudantes no Superior, sabendo-se que mais de 60% dos nossos jovens não prosseguem estudos findo o Secundário.
Aveiro e Porto
Para 15 de março, está já marcada uma segunda conferência, na Universidade de Aveiro, com foco na articulação entre ensino e investigação. A 17 de abril, é no Porto que se vai debater a valorização do conhecimento e a articulação entre universidades e tecido empresarial.
Pacto para o Superior
"Esta Convenção tem como objetivo ultrapassar uma década de estagnação e construir uma nova agenda das universidades para os anos 2020-2030", diz o presidente do CRUP. Em ano eleitoral, Fontaínhas Fernandes aposta num "pacto" para o setor.
Alojamento pode custar quase o dobro em Lisboa
No total de despesas, o alojamento é preponderante. E se Portugal não tem dos custos mais altos face aos países analisados, dentro do país ,esse alojamento "pode custar quase o dobro na capital" do que em cidades com menos de cem mil habitantes, revela Susana da Cruz Martins. O peso das residências universitárias é, por si só, também muito baixo. "Só 6% dos estudantes estão em residências apoiadas pelo Estado, o que faz muita diferença na questão da autonomização", alerta.