Manual prevê que a aprendizagem deve ser consolidada até aos 10 anos em espaço escolar e, a partir do 2.º Ciclo, passar para a via pública.
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O Ministério da Educação pretende que os alunos aprendam a andar de bicicleta até aos 10 anos, de modo que, a partir do 2.º Ciclo, iniciem essa prática em espaço público. A intenção consta do manual técnico que ajudará as escolas e os professores a operacionalizar os projetos "Desporto escolar sobre rodas" e "O ciclismo vai à escola" de frequência opcional. Todos os agrupamentos com 2.º Ciclo vão receber bicicletas e capacetes.
No 1.º Ciclo (do primeiro ao quarto ano), os alunos aprenderão a pedalar dentro da escola, "em perímetro delimitado e seguro". A partir do 5.º ano de escolaridade, nos 2.º e 3.º ciclos do Básico e no Secundário, passarão a ter formação "em espaço público", na "rodovia" e em contextos urbanos de "baixa" e de "alta densidade". Os grupos serão pequenos, com cinco alunos, acompanhados por professor ou estudantes experientes. O ciclismo deve tornar-se, assim, uma matéria de complemento curricular, num modelo opcional e faseado ao longo de toda a escolaridade obrigatória. O principal objetivo "é dotar os alunos de literacia velocipédica que lhes permita andar de bicicleta numa lógica de mobilidade" nas deslocações quotidianas e de lazer.
Medo aumenta com a idade
A intenção é que os alunos tenham a aprendizagem consolidada até aos 10 anos, porque, "apesar de a capacidade de aprendizagem estar presente em qualquer idade, à medida que esta aumenta, aumenta também o medo e o receio de queda", lê-se no manual, publicado pela Direção-Geral de Educação e pela Federação Portuguesa de Ciclismo. "Entre os três e seis anos, a criança necessita de um adulto para ser acompanhada durante o percurso casa-escola-casa. Entre os seis e sete anos, a maioria pode ir para a escola a pé, autonomamente, e, a partir dos 10 ou 11 anos, de bicicleta", refere-se.
O manual técnico pretende ser um referencial, uniformizado, para esta oferta de ensino. Entre as recomendações para a circulação na via pública, por exemplo, consta o conselho para que se leve um kit de ferramentas, telemóvel, usar roupas claras, iluminação dianteira e traseira e fazer a atividade em grupos pequenos de quatro ou cinco elementos.
"Do ponto de vista pedagógico, o manual é excelente. Aprender a andar de bicicleta é tão essencial como nadar ou correr. O problema é como o projeto vai ser concretizado", defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Educação Física (SPEF). O 1.º Ciclo não está abrangido pelo Desporto Escolar, alerta Nuno Ferro, e, em muitos casos, a Educação Física nestes anos é assegurada pelos "professores titulares cuja formação inicial nesta área é deficitária". Assim, "persistem muitas dúvidas", por exemplo, o motivo pelo qual esta matéria não é incluída na disciplina de Educação Física, em vez de estar agregada ao Desporto Escolar que é opcional. "No currículo, seria para todos", frisa. Depois, há a preocupação e a incerteza quanto aos meios e as infraestrutras necessárias para a manutenção das bicicletas, desde professores a ferramentas e espaços, como parques de estacionamento.
Para o presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP), o projeto será bom para a saúde física e mental dos alunos. "É uma boa iniciativa que vai exigir condições para se colocar o projeto em prática", sublinha Filinto Lima, garantindo que as escolas aguardam as prometidas bicicletas e capacetes. "Primeiro, têm de chegar e, depois, tem de criar-se as condições de manutenção". Mas isso "deve ser analisado caso a caso", consoante os meios (humanos e materiais), se já existem projetos em curso e o espaço envolvente das escolas, para se perceber o que cada agrupamento vai precisar.
Bicicletas devem chegar às escolas a partir de setembro
Aprender a andar de bicicleta de modo competitivo ou nas deslocações diárias é uma das apostas da estratégia do Desporto Escolar até 2025. O Plano de Recuperação e Resiliência prevê a dotação de 2,8 milhões de euros para a compra de bicicletas de vários tamanhos para todos os agrupamentos. O Instituto Português do Desporto e Juventude recebeu luz verde para lançar o concurso em novembro, com uma verba de 2,3 milhões (a execução será faseada). De acordo com o Ministério da Educação, houve três candidaturas, estando o processo em fase final de avaliação e prestes a ser decidida a adjudicação. As bicicletas devem chegar às escolas no próximo ano letivo.
Saber Mais
Seguro alargado
No manual, lê-se que o seguro escolar deve ser alargado para cobrir acidentes com alunos que se deslocam para a escola de bicicleta.
Ferramentas
As escolas devem ter um conjunto de ferramentas "essenciais", como suporte de bicicleta, bomba de ar manual, chave-inglesa, chave de fendas, alicates ou descravadores de elos de corrente.
Formação
Está prevista formação e certificação de professores e de monitores. As escolas podem fazer parcerias com clubes ou autarquias para a execução do projeto.