A Associação Ambiente em Zonas Uraníferas e o Movimento Contra Mineração Beira Serra prometem avançar com ações de protesto contra a prospeção e exploração de lítio nos distritos de Viseu, Guarda e Castelo Branco.
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O aviso é deixado no dia em que o Governo anunciou que a Avaliação Ambiental Estratégica, promovida pela Direção-Geral de Energia e Geologia, viabilizou a pesquisa deste mineral em seis das oito áreas com potencial de exploração. De fora ficaram apenas as zonas de Arga e Segura.
"Nos seis locais viáveis é proposta uma redução de área inicial para metade", explica em comunicado o Ministério do Ambiente e da Ação Climática, salientando que "nos próximos 60 dias poderá avançar o procedimento concursal para atribuição de direitos de prospeção e de pesquisa de lítio".
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As duas associações ambientalistas criticam o Governo por só agora, três dias depois das eleições legislativas, que resultaram numa maioria absoluta para o PS, ter revelado o resultado da Avaliação Ambiental Estratégica.
"É uma atitude de desrespeito completo das populações porque não tornaram públicas estas decisões polémicas em período eleitoral, mas sim só após a conquista dos lugares que pretendem atingir. Isto é inaceitável", afirma Renata Almeida, do Movimento Contra Mineração Beira Serra. "Isto é um mau pronuncio", acrescenta António Minhoto, da Associação Ambiente em Zonas Uraníferas (AZU), lembrando que António Costa, no domingo, depois da vitória das legislativas, tinha sito que "maioria absoluta não era poder absoluto".
Ambas as associações ambientalistas criticam o PS por não ter falado no lítio na campanha e equacionam já formas de luta contra a exploração de lítio. Ainda que esteja "tudo muito fresco", Renata Almeida garante que a "luta das populações vai continuar".
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"Agora que forma é que irá tomar temos ainda que analisar. Claramente que as Beiras, Trás-os-Montes e a zona de Amarante, Fafe e Mondim são zonas a sacrificar e isto vai gerar mais protestos e reações", avisa.
"Luta" é o que promete também António Minhoto. O dirigente da Associação Ambiente em Zonas Uraníferas acredita que à semelhança do que aconteceu nas áreas de Arga e Segura ainda será possível reverter a prospeção do chamado ouro branco.
A organização prevê realizar manifestações e já no próximo mês de março conta promover em Viseu "um grande debate", juntando as forças vivas locais, associações ambientalistas, populações e autarcas contra o lítio.
"Os efeitos vão ser penosos. As aldeias estão juntas aos locais [de exploração] e isto teria um efeito arrasador", defende, acrescentando que numa altura de seca a procura deste mineral pode ser fatal. "Com esta seca que nós vivemos, em que a água já pouco existe, virem fazer furos, dando cabo de nascentes, destruindo água potável, vem mostrar que este processo não pode ir para a frente", argumenta.
Além da questão da água, Renata Almeida do Movimento Contra Mineração Beira Serra sublinha que a exploração de lítio vai também comprometer a biodiversidade uma vez que estão em causa "muitos quilómetros quadrados que vão ser afetados pela prospeção".
"O único aspeto que mudou face ao que estava previsto na consulta pública é a redução de várias das áreas. Essa redução não é significativa nem em Massueime, nem em Guarda Mangualde Este, mas há uma redução na área de Seixoso-Vieiros, Guarda-Mangualde C, Guarda-Mangualde Oeste, Guarda-Mangualde Oeste", refere.
Na zona Guarda-Mangualde Oeste, e de acordo com a ambientalista, a Avaliação Ambiental Estratégica vem comprovar que não se vai procurar lítio, uma vez que este mineral "é quase inexistente". "O verdadeiro alvo é o estanho, urânio e outros minerais. Mantém-se o lítio como uma espécie de bandeira que permite que as pessoas considerem que será benéfico para a transição energética e descarbonização", denuncia.
O que dizem os autarcas?
Ouvido pelo JN o presidente da Câmara de Penalva do Castelo, Francisco Carvalho, um dos concelhos onde estão previstos trabalhos de pesquisa no terreno, diz estar "tranquilo" face a este processo.
O autarca socialista lembra que, em 2019, o município manifestou-se contra a exploração de lítio por temer consequências nos setores agrícolas e do turismo. "Estou muito tranquilo porque não acredito que a exploração avance neste concelho porque uma das áreas indicadas está protegida pela Barragem de Fagilde e não podem explorar lítio próximo da fonte principal de abastecimento à cidade de Viseu e concelhos limítrofes. Na outra área referenciada, na freguesia de Real, já está uma exploração mineira em curso e por isso estou muito tranquilo, não haverá exploração de lítio no concelho", referiu.
O presidente da Câmara de Mangualde (PS), Marco Almeida, vai aguardar os resultados da prospeção e avisa que vai defender "os interesses do concelho e das populações" mediante os resultados desses trabalhos de pesquisa. "Parece-me prematuro tomarmos uma posição sobre algo que ainda não sabemos se vai existir ao não porque o que está em causa é uma prospeção e não uma exploração", sustentou o autarca do PS, que diz estar a acompanhar este processo com serenidade.
O JN tentou sem sucesso ouvir outros autarcas da região de Viseu.