O aumento do tráfego aéreo no Porto e Lisboa devido à explosão turística é um paraíso para os planespotters. A paixão pela fotografia de aviões ganhou novo alento e crescem os que aproveitam as imediações dos aeroportos para dar azo a uma atividade que remonta à II Guerra Mundial.
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Os primeiros números de 2019 confirmam a tendência de aumento da movimentação nos aeroportos nacionais. Dados recentes divulgados pela francesa Vinci, proprietária da ANA Aeroportos de Portugal, referem que nos três primeiros meses deste ano o número de passageiros subiu 6,2% em relação ao período homólogo de 2018. Um esfregar de mãos para os amantes do planespotting, ou seja, para quem faz da fotografia amadora de aviões passatempo regular. Em Portugal são às centenas, com presença assídua nas imediações das principais pistas, sobretudo no Francisco Sá Carneiro (Porto) e no Humberto Delgado (Lisboa).
Não é difícil detetá-los enquanto tentam o melhor ponto de onde seja possível recolher imagens de um avião, se possível fora do vulgar. Apenas autorizados a circular nas imediações das pistas - no interior dos aeroportos apenas podem entrar com autorização especial e devidamente acompanhados - vão todos ao mesmo tempo, munidos de máquinas fotográficas com objetivas que captem todos os detalhes do aparelho desejado. "As redes sociais ajudam à divulgação, por isso sabemos quando é possível encontrar o avião que pretendemos", conta Carlos Moreira, 37 anos, técnico de vendas de automóveis e presidente da Associação Portugal Spotters. "Houve sempre interesse no planespotting, interesse esse que tem aumentado nos últimos anos", garante.
São mais marcas, mais companhias, mais voos, mais motivos para fotografa
Uma das razões passa, precisamente, pela cada vez maior atividade verificada nos aeroportos nacionais. Em Lisboa e no Porto, sobretudo nestes, o boom turístico que se tem verificado de há cerca de cinco anos a esta parte redobrou o interesse no planspotting. "São mais marcas, mais companhias, mais voos, mais motivos para fotografar", confirma Domingos Patena, 33 anos, que faz do Aeroporto Sá Carneiro quase segunda casa, assim lhe permitam as horas livres que lhe restam da profissão de consultor financeiro.
Os sinais trazidos pela aviação associada ao turismo nas duas maiores cidades portugueses são bem traduzidos pelo gráfico de crescimento do tráfego no Humberto Delgado e no Francisco Sá Carneiro. Analisando os resultados oficiais recolhidos anualmente desde 2014, apresentados pela Pordata, é fácil perceber a curva ascendente. Há cinco anos, o Aeroporto do Porto registou 6,9 milhões de passageiros, ao passo que o de Lisboa movimentou 18,1 milhões. Em 2017, o último ano com números oficiais disponibilizados, o Sá Carneiro subiu 10,7 milhões de passageiros, ao passo que o Humberto Delgado ascendeu aos 26,6 milhões.
É só estarmos no sítio certo à hora certa
Se a estes acrescentarmos os aeroportos de Faro, do Funchal e os vários existentes nos Açores, de 2014 a 2017, Portugal passou de ponto de partida e chegada para 35,6 milhões de pessoas para 55,9 milhões. "Há cada vez mais spotters em Lisboa, o que é confirmado pelo número elevado dos que aparecem quando se trata de um avião mais raro", assinala Carlos Silva, 47 anos, maquinista da CP e entusiasta com paragem assídua no Humberto Delgado.
Por mais raros, os spotters entendem aviões cujos modelos pouco são vistos por cá, como um Airbus 340-600 ou o gigante Boeing 777.
Mas não são apenas os aviões menos usuais que chamam a atenção dos spotters. O que também lhes interessa para anotarem no caderno onde registam todas as imagens efetuadas, e até as matrículas dos aparelhos que vão fotografando ao longo do tempo, são máquinas que fujam da rotina no que respeita, por exemplo, à aparência. "Que sejam edições especiais, com pinturas fora do comum", explica Carlos Moreira. Como foi o caso de uma recente edição da TAP, que reinventou o design utilizado pela companhia na década de 1970.
"É só estarmos no sítio certo à hora certa", resume Domingos Patena, que não esconde a ansiedade à medida que se aproxima a hora de o Porto receber a Emirates, a luxuosa companhia dos Emirados Árabes Unidos que voará regularmente para o Sá Carneiro a partir do verão. Mais um sinal de que o turismo não pára de arranjar novos motivos de interesse para os planespotters.