O secretário-geral do PS afirmou, esta sexta-feira, que as negociações com PCP e Bloco de Esquerda estão "a correr bem", embora seja prematuro dizer que vão acabar bem, salientando que quer um programa de Governo para a legislatura.
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António Costa assumiu esta posição em entrevista à TVI, durante a qual defendeu que o PS não quer chegar ao Governo a qualquer custo e em que destacou a ideia de que pretende formar um executivo "estável" e não um que tenha uma vida assegurada apenas para "um ano, sem saber o que vai acontecer a seguir".
"Estamos a trabalhar num programa de Governo para a legislatura", contrapôs o líder socialista, ainda em alusão às negociações com o PCP e Bloco de Esquerda, tendo em vista a formação de um executivo alternativo ao da coligação PSD/CDS.
Interrogado sobre a forma como estão a desenrolar-se as negociações com comunistas e bloquistas, o secretário-geral do PS disse estarem "felizmente a correr bem", mas ressalvou que "é prematuro dizer que vão acabar bem".
"Essas negociações devem permitir ter não só um Governo, mas também uma estabilidade política que assegure uma mudança de política", disse - uma nota que procurou salientar por diversas vezes ao longo da entrevista.
Questionado se as negociações visam a integração do PCP e do Bloco de Esquerda num Governo para quatro anos, ou apenas a viabilização de um programa de Governo a apresentar pelo PS isoladamente, Costa respondeu: "Neste momento, estamos centrados nas questões programáticas e ainda não se falou se o acordo terá mera incidência parlamentar. Isso ainda é prematuro, não vamos estar a falar de lugares antes de nos entendermos sobre políticas", alegou.
Depois de declarar que o PS "não quer ir para o poder a qualquer custo" e, por isso, Costa defendeu que PS, PCP e Bloco de Esquerda "têm de trabalhar naquilo que faz sentido".
"Ou seja, se conseguimos ter um Governo estável. Um Governo estável não é obviamente um Governo que tenha vida assegurada por um ano sem saber o que acontece a seguir", frisou o líder socialista.
Para António Costa, um eventual acordo com o PCP e Bloco de Esquerda "é para haver um programa de Governo, não para um ano, mas, naturalmente, para a legislatura".
"Não faz obviamente nenhum sentido considerar que há viabilidade de um Governo alternativo se esse Governo cair daqui a três meses na discussão do Orçamento. Os portugueses pedem que as mudanças de política que ambicionam se possam concretizar efetivamente - e todos sabemos que não é possível fazermos tudo o que gostamos num ano. É necessário fazer um trabalho para a legislatura", insistiu.
Na entrevista, o secretário-geral do PS rejeitou a tese de que as negociações para a formação de um executivo com comunistas e bloquistas constituam uma espécie de golpe e sustentou que em diversas intervenções públicas "nunca" excluiu a formação de qualquer Governo com o PCP e com o Bloco de Esquerda.
Neste ponto, para rejeitar a tese de que um eventual Governo socialista com o PCP e Bloco de Esquerda constituirá uma surpresa, Costa citou uma manchete do semanário "Expresso" de meados de setembro, em que colocava esse mesmo cenário, assim como os próprios discursos dos líderes do PSD, Pedro Passos Coelho, e do CDS, Paulo Portas, na última semana de campanha.
"Passaram a última semana da campanha a dizer cuidado que vem aí os comunistas, porque, se o PS ganhar as eleições, pode fazer um Governo com o Bloco de Esquerda e com o PCP. Nós respeitamos os resultados eleitorais e, obviamente, se Passos Coelho, conseguir formar um Governo estável e com maioria na Assembleia da República, é a ele que cabe em primeiro lugar esse esforço. Quem somos nós para pôr isso em causa. Nós não vamos deitar abaixo [um Governo] só para deitar abaixo", acrescentou.