Mais pedidos de apoio. Identificadas como "criminosas" crianças entre 6 e 10 anos.
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"A violência em meio escolar está em crescendo e esta dimensão é muito preocupante", alerta a secretária-geral da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), Cármen Rasquete. A responsável sustenta a afirmação nos dados do último Relatório Anual da instituição, que revelou, na semana passada, que o número de vítimas menores apoiadas no ano passado aumentou, assim como cresceu o número de crianças e jovens que cometeram crimes. Muitos dos quais na escola e tendo como alvos os próprios colegas.
No ano passado, a APAV apoiou 2595 vítimas com menos de 18 anos. Um número que representa 17,7% de todos quantos recorreram aos serviços da associação, um "aumento expressivo face ao ano transato", realça o Relatório, que lembra que, em 2019 e 2020, as vítimas daquele escalão etário não chegaram às 2000.
O documento dá conta de outro fenómeno: "O número de menores autores de crime e outras formas de violência representou 1,4% dos casos, valor mais alto dos últimos anos". Aliás, a sinalização de 192 crianças e jovens como autores de um crime significa mais 31,6% face a 2021.
Dezasseis dos "criminosos" identificados tinham entre 6 e 10 anos, o que reforça a tese de que uma grande quantidade de crimes foi cometido no espaço escolar. Mais uma vez, a estatística corrobora a hipótese, visto que, em 2022, registaram-se 295 casos de violência na escola ou local de trabalho, o que representa um aumento de 134% em relação a 2020.
Cifras negras
A secretária-geral considera os dados muito preocupantes, mas teme que a realidade seja ainda mais dura. "Há muitas cifras negras e muitos casos que não chegam ao nosso conhecimento. Esta situação é transversal a todo o tipo de violência", alega. A responsável confirma que alguns casos estão relacionados com violência no namoro, mas assegura que a maioria ocorrem na escola e entre colegas. "Não podemos não intervir", alerta.
A responsável acredita que há "uma maior sensibilização para apresentar queixa". Contudo, não afasta a hipótese de um crescimento, puro e duro, da violência e pede mais iniciativas.
"Uma prevenção estruturada e sistemática tem dez vezes mais impacto que outro tipo de intervenção", afirma Cármen Rasquete.
Escolas têm uma batalha difícil em mãos"
Porque há alunos cada vez mais violentos?
Atualmente, as crianças e jovens apresentam características de desenvolvimento emocional cada vez mais deficitário, nomeadamente, no que diz respeito à capacidade para lidar com a frustração e para controlar os próprios impulsos. A par disto, apresentam uma menor preocupação em relação ao sofrimento que possam provocar no outro.
Que danos psicológicos causam nas vítimas?
No caso da violência em contexto escolar, são frequentes os sentimentos de mal-estar psicológico, baixa autoestima, isolamento, depressão, ansiedade, alterações de comportamento como, por exemplo, enurese, tiques e problemas de sono. Em situações mais graves, as vítimas podem apresentar ideação suicida.
Como se combate esta violência?
Com políticas de prevenção, mas também de resposta à violência. Formando e apoiando os professores e outros profissionais das escolas em áreas como a resolução de conflitos. Envolvendo toda a comunidade escolar nestas respostas e, acima de tudo, as famílias.
As escolas estão preparadas para esta violência?
As escolas têm uma batalha difícil em mãos. Temos um longo caminho a percorrer, que tem de ser feito por todos nós, sociedade, e não só pelas escolas.