Crimes em ambiente escolar disparam. Comparação com ano letivo pré-pandémico de 2018/2019 mostra aumento de 243% só na área da GNR.
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A criminalidade nas escolas está a subir em flecha, a par da delinquência juvenil. No último ano letivo, as autoridades tiveram de se deslocar 18 vezes por dia a estabelecimentos de ensino, 12 das quais por causa de crimes, a maioria de natureza violenta. Ao contrário do que tem acontecido na última década, os problemas têm diminuído nas zonas urbanas a cargo da PSP, mas subiram cerca de 243% nas áreas da GNR, comparando com números pré-pandémicos. O aumento global situa-se nos 40%
Uma nova metodologia mais abrangente, que passou, por exemplo, a contabilizar crimes ocorridos nas imediações das escolas, explica o agravamento. As ofensas à integridade física foram dos crimes que mais aumentaram, dentro e fora da escola, com uma subida de 36%.
De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), quando se compara o ano letivo 2018/2019 com o de 2021/2022, o total de ocorrências passou de 5250 casos para 6607, sendo que 93,3% destas deslocações policiais a ambientes escolares foram de natureza criminal. Eram essencialmente casos de agressões, ou de injúrias, mas também houve situações de furtos e atos de vandalismo. Em 2019, contabilizaram-se 1359 agressões e no ano passado 1860, o que perfaz um aumento de mais de 36%. Também os registos de casos de injúrias e ameaças subiram de 818 para 1128.
As chamadas ocorrências não criminais são, na sua generalidade, pequenos arrufos ou denúncias que não se confirmaram.
Critério mais abrangente
Segundo cálculos do JN, nos dois períodos em análise as ocorrências criminais aumentaram mais nas zonas policiadas pela GNR, passando de 637 para 2190. As ocorrências não criminais diminuíram de 468 para 300. Fonte oficial do Comando Geral da Guarda explicou que "a ferramenta informática de informações em uso na GNR (o Sistema Integrado de Informações Operacionais da Polícia - SIIOP) a partir do ano letivo 2021/2022 permite a extração dos elementos estatísticos de forma mais abrangente, sistematizada e fiável relativamente à temática dos ilícitos em ambiente escolar". Ou seja, até agora, os dados contabilizados pela GNR poderiam estar abaixo da realidade. "Assim sendo, pelo facto da metodologia ser diferente, não é possível correlacionar os dados de anos letivos", adiantou ainda a Guarda.
Mais proatividade
Outras fontes questionadas pelo JN admitem que a criminalidade junto das escolas possa ter aumentado e revelado uma nova realidade, mas também apontam a proatividade e maior sensibilidade dos militares ao registarem os crimes como tendo origem em ambiente escolar para explicar a subida.
"São crimes que apesar de serem praticados nas imediações das escolas, poderiam estar a ser registados em outros itens", explicam.
Delinquência juvenil faz soar alarmes
A delinquência juvenil, que envolve crianças com idades entre 12 e 16 anos e está presente em toda a sociedade, registou no ano passado um aumento de 50,6% e tem reflexos na segurança escolar.
Episódios violentos protagonizados por grupos ligados a estilos musicais, incluindo homicídios, levou o Governo a criar, no ano passado, uma comissão para analisar o fenómeno e encontrar formas de o combater.
Pormenores
Comissão contra violência juntou 77 instituições
A Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta, criada pelo Governo para estudar o fenómeno, reuniu-se com 77 instituições antes de apresentar o relatório intercalar e as primeiras recomendações. Entre aquelas instituições estão centros de investigação ou das áreas da justiça, educação e saúde.
Violência no desporto é fator de risco
A violência em competições no desporto não profissional, sobretudo aquelas em que estão envolvidos escalões etários mais baixos, será um fator de risco. Esta vertente está já a ser objeto de análise pelas comissões de criança e jovens em risco de todo o país.
1,5 milhões de alunos de 7800 estabelecimentos de ensino em todo o país foram abrangidos por ações dos programas da Escola Segura implementados pela GNR e pela PSP no último ano letivo.
700 jovens, na Grande Lisboa, estão identificados pela Polícia Judiciária. Integram 27 grupos de drill, estilo musical que glorifica a violência entre eles, da qual resultaram, em 2022, quatro homicídios.