Falta pouco para poder comunicar com o seu médico através de uma chamada com imagem no telemóvel. A consulta através de uma aplicação móvel (app) vai estar disponível até ao final do ano no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
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O projeto-piloto avança este semestre e o alargamento está previsto até ao fim do ano. Estas consultas serão sobretudo úteis a doentes crónicos, mas dependem sempre da vontade do médico.
"Estamos a trabalhar para que seja possível, até ao final do ano, ter operacional a plataforma de registo eletrónico que permitirá ao cidadão contactar diretamente, recorrendo ao telemóvel, um profissional de saúde do SNS: médico ou enfermeiro", adianta Henrique Martins, presidente do Conselho de Administração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Trata-se de uma solução de "telemedicina que permite ligar a app do cidadão à app do médico, o que significa que, se eles quiserem - depende sempre da vontade do médico - estando um na China e outro no Japão, podem fazer a sessão", explica o responsável, na véspera do arranque do Portugal eHealth Summit 2019, sobre a aplicação das tecnologias na saúde, que hoje começa em Lisboa, e que tem como pontos fortes de reflexão a cibersegurança e a regulamentação.
A nova plataforma vai ser integrada na app "Mysnscarteira", disponível desde janeiro de 2017 e já descarregada por 330 mil pessoas. A comunicação com o médico pode ser feita "através do portal, na área do cidadão, ou através da app". A ferramenta pretende incluir qualquer profissional. "O nosso foco é o SNS mas também poderá ser utilizada por qualquer médico do privado que o queira".
O acesso a cuidados de saúde utilizando a Internet no computador, nomeadamente por videoconferência, não é novo em algumas zonas geográficas isoladas, como no Alentejo. São feitas, na sua maioria, com o utente acompanhado do médico de família que estabelece ligação com o especialista. A alternativa também foi alargada aos reclusos portugueses. No setor privado, o modelo tem ganho expressão com a criação de empresas exclusivas no ramo e algumas seguradoras a apostarem no setor.
Consulta fica registada
Neste novo passo, "a mudança reside no facto de se tratar de um serviço da chancela do SNS que torna a modalidade aberta a todos, oferecendo um circuito seguro", salienta Henriques Martins.
A consulta pela app permitirá o registo formal da consulta e a prescrição imediata da receita, recorrendo a outra app, que estreou a 20 de fevereiro e reuniu em poucos dias 2000 inscrições de médicos, na sua maioria do privado. Na última sexta-feira, este serviço ultrapassou a barreira das 100 receitas.
As sessões via vídeo não substituem em absoluto a consulta presencial, necessária ao diagnóstico de certas maleitas, mas revelam-se úteis no acompanhamento de doentes crónicos. "Esses doentes são conhecidos do médico e facilmente estes podem indicar recomendações para quadros de agudização da doença". E dá um exemplo: uma pessoa com insuficiência cardíaca foi passar o Natal com os filhos, bebe e come sem restrições, abusa do sal. Faz retenção de líquidos e incham-lhe as pernas. "Até prova em contrário, tem basicamente de aumentar o diurético e daí a dois dias já está melhor".
Contudo, o mundo da inovação suscita novos riscos e preocupações, como o da "responsabilidade médica". "É preciso saber quem disse o quê e quando. Pois quando há um problema, é preciso saber a origem da recomendação". Igualmente pertinente é a garantia da proteção dos dados. No "eHealth Summit" estará em análise a necessidade de certificar app na área da saúde e de harmonizar critérios entre países.
Outras inovações
Neurologia em rede
O Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra prepara uma projeto de telemedicina que vai permitir apoiar outros neurologistas na área das demências e criar condições para que os doentes tenham uma assistência de proximidade com a qualidade das consultas de especialidade. O objetivo é envolver todos os hospitais da região Centro que revelem interesse em estar em rede.
Pediatras na linha da frente
Os pediatras são dos mais entusiastas destas modalidades de consulta por app, revela Henrique Martins. Atualmente, é usual o pediatra fornecer contacto por email e telemóvel, a partir do qual os pais se mantêm em contacto em caso de sintomas ligeiros. O recurso à app replica a fórmula de comunicação.
Doenças escondidas
Diogo Medina, médico do Grupo de Ativistas em Tratamentos, GAT, a partir do qual acompanha pessoas infetadas com VIH/sida, recorreu à telemedicina para dar consultas a quem estava fora de Lisboa e era indicado para a vacinação da hepatite A.