Os 37 482 hectares de área ardida em Portugal desde o início do ano até quinta-feira estão a fazer de 2022 o segundo pior ano da última década ao nível de fogos florestais, até ao momento. Esta extensão de área ardida deve-se aos incêndios de julho, uma vez que entre os dias 1 e 14 deste mês arderam 26 151 hectares de vegetação, mais do dobro dos 11 331 hectares de área ardida nos primeiros seis meses do ano. Isto apesar de o número de incêndios até ser menor do que a média.
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"Comparando os valores do ano de 2022 com o histórico dos dez anos anteriores, assinala-se que se registaram menos 6% de incêndios rurais e mais 79% de área ardida relativamente à média anual do período", calcula o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Maior incidência no litoral
Os 37 482 hectares de área ardida até 14 de julho só são ultrapassados pelos números do fatídico ano de 2017, em que até 14 de julho tinham sido consumidos 73 973 hectares de área florestal. Há, contudo, um fenómeno semelhante ao ano de Pedrógão Grande. É que a maioria dos fogos em 2022, tal como em 2017, estão a ocorrer em zonas de povoamentos (51%), o que é incomum. Isto significa que "estão acantonados na zona litoral" e queimam vegetação que não tinha ardido na última década, constata Paulo Fernandes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, especialista em incêndios. Os restantes fogos foram em zonas rurais (16%), de mato (31%) e agrícolas (3%), de acordo com o ICNF.
O tipo de vegetação ardida nas últimas duas semanas é um dos fatores que justificam que haja menos incêndios e mais área ardida. Outro fator é a condição de seca do território nacional que faz com que os fogos que não são extintos à nascença "acelerem e consumam uma área maior", explica Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil.
Noite com mais fogos e severos
Um fenómeno incomum com que os bombeiros se têm deparado é a inexistência de janelas de oportunidade para se extinguirem fogos à noite. Noutros anos, a humidade noturna foi uma grande aliada dos bombeiros e permitia extinguir os fogos grandes que apareciam de dia, mas este ano "tem havido muita dificuldade em recuperações noturnas porque, para além da temperatura que tem estado elevada, as noites também não têm tido humidade que permita essa operação", revela Duarte Caldeira.
Também há "reacendimentos noturnos e pessoas que querem fazer queimadas e sabem que de noite ninguém as vai chatear", completa Paulo Fernandes.
O comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, já alertou para a existência de "um grande número de ignições" durante a madrugada nos últimos dias.