Depois das manifestações de rua, a nova forma de protesto dos professores pode passar por acampamentos noturnos à frente das escolas. O mote chega do Algarve, onde, na noite deste domingo pelo menos duas dezenas de docentes e outros profissionais do Agrupamento Silves Sul pernoitaram em tendas, montadas à porta da EB 2,3 de Armação de Pêra, concelho de Silves. A ação repete-se na noite desta segunda-feira
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"Temos sido contactados por colegas do Norte, que querem seguir este modelo de protesto, uma vez que os serviços mínimos cortaram-nos o nosso direito à greve", referiu ao JN Luís de Deus, docente daquela escola, que dormiu as duas últimas noites numa tenda, enfrentando, como os colegas, uma forte chuva que caiu insistentemente na madrugada e manhã desta segunda-feira.
"Foi uma chuva abençoada por Deus", brinca o professor, acrescentando que todos os presentes (chegaram a ser 200 à hora do jantar) ficaram com a sensação de serem "uma equipa fantástica", que está a ser vista como "uma lanterna a nível nacional".
Mara Guerreiro é psicóloga no agrupamento e confirma os contactos de colegas do Norte para seguirem este modelo. Este "contágio" a outras zonas têm uma explicação. "As pessoas que estão aqui são as que gostam mesmo de trabalhar, que querem continuar a dar uma escola pública aos seus filhos", observa.
A profissional refere que está presente neste acampamento sobretudo pela "precariedade" da sua classe. E estranha que, como não docentes, os psicólogos não sejam considerados como uma "necessidade permanente", mas, quando os serviços mínimos foram decretados, estes foram "os primeiros a ser chamados".
Dentro de tendas e sob forte chuvada
Hugo Matos, professor de Educação Física foi outro dos docentes que enfrentou a chuva na primeira noite do protesto mas diz-se confiante no facto de esta luta ir "de certeza expandir-se pelo país".
O docente destaca que, apesar de já ser dos quadros, está presente porque há questões que continuam a preocupar toda a classse. "O fim das quotas, que impedem o acesso ao topo,, a forma de avaliação que é injusta e os seis anos e seis meses de carreiras congeladas", aponta.
Para a noite de ontem estava prevista uma tertúlia e uma vídeo chamada com colegas de Mirandela, precisamente para falarem sobre a forma como se podem fazer os acampamentos.
Os professores com quem o JN falou contaram que os colegas que já os contactaram perguntam sobretudo que tipo de logística é necessária e quais os passos para replicar o protesto.
Luís de Deus revelou também que a comunidade escolar se mostrou solidária e apontou o caso de uma mãe que emprestou uma tenda grande para os professores dormirem. E os pais que, ontem de manhã, foram levar croissants e pães para o pequeno-almoço dos que ali passaram a noite. "Todos têm noção que estamos a lutar pelo futuro. Hoje em dia nenhum aluno quer ser professor. A profissão está ameaçada", concluiu.