Os mais emblemáticos edifícios de escritórios estão a cair em desuso um pouco por todo o Mundo. Em Portugal, pelo contrário, a tendência é para que continuem a florescer e para que as empresas multinacionais neles apostem para se instalarem no país e gerarem postos de trabalho.
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Foram um símbolo de poder traduzido em imponência pela altura. Hoje, são espaços à procura de um novo futuro, de uma nova forma de utilização, de um novo rumo. Os arranha-céus já não possuem o glamour que os envolveu quando foram edificados e os tornaram símbolo dos principais centros de negócios internacionais. E a pandemia de covid-19 veio dar mais razões para que se reinventem.
Um dos exemplos mais paradigmáticos é o Empire State Building, em Nova Iorque (EUA). Apenas 20% da ocupação habitual foi retomada desde o início da crise sanitária, qualquer coisa como 15 mil trabalhadores, e muitas empresas lá instaladas estão a pedir aos trabalhadores que prolonguem o regime de teletrabalho - além daquelas que recorreram a despedimentos e assim reduziram o quadro de funcionários. As receitas das rendas caíram 83%, segundo um cálculo feito pela agência Reuters.
Também o Burj Khalifa, no Dubai (Emirados Árabes Unidos) enfrenta problemas do género, embora não com uma intensidade de números tão aguda como o Empire State Building, assim como edifícios da City, em Londres, ou de outras grandes capitais da Europa.
O recurso intensivo ao teletrabalho é apontado pelos analistas como a principal razão para o abandono massivo dos arranha-céus, recurso esse que as mesmas fontes apontam que a curto prazo será regra, levando a que uma situação excecional motivada por um contexto atípico a nível internacional, que obrigou a medidas radicais de segurança sanitária, venha a transformar-se em hábito comum.
Portugal está em contraciclo
Apesar do contexto atual, há cidades que não interromperam os planos de construção de arranha-céus de escritórios. É o caso de Londres e Manchester (Reino Unido), Seul (Coreia do Sul) ou de São Petersburgo (Rússia).
Contrariando a tendência internacional, em Portugal os grandes edifícios de escritórios continuam em alta e nem a pandemia veio alterar o respetivo paradigma de utilização. Apesar de estarmos a falar de torres que em altura muito devem aos mais conhecidos arranha-céus mundiais, o certo é que os tempos recentes marcaram a aposta neste tipo de prédios, sobretudo em Lisboa e no Porto, cidades onde a procura de escritórios aumentou exponencialmente nos últimos anos e onde a oferta era reduzida a este nível.
"A procura tem vindo a subir desde 2017. É um mercado cujos espaços disponíveis eram sofríveis e no qual as maiores cidades têm apostado forte", confirma Graça Ribeiro da Cunha, responsável da consultora Predibisa para a área de escritórios.
Uma das principais razões tem a ver com os valores que as empresas estrangeiras encontram em Portugal, substancialmente mais baixos do que nos principais centros financeiros e de negócios da Europa e não só. "O preço por metro quadrado para arrendamento é muito mais barato. Por exemplo, o Porto é uma cidade com rendas três vezes inferior a Londres nesse aspeto", aponta Graça Ribeiro da Cunha.
O teletrabalho irá continuar, mas a um nível bem mais reduzido
Recentemente, dois casos sublinharam que Lisboa e Porto continuam em alta no que à procura de escritórios diz respeito. Na capital, a JLL anunciou a comercialização das últimas três frações disponíveis na Torre Oriente, próxima do Centro Comercial Colombo. "É um edifício com uma localização de excelência ao nível de transportes, acessos e serviços nas imediações e, a coroar tudo isto, conta com as mais avançadas opções tecnológicas", explica Mariana Rosa, Head of Office pela Logistics Agency & Transaction Management da JLL Portugal.
Na Invicta, o Porto Office Park, edifício recente, construído de raiz na zona da Boavista com uma área de 1725 metros quadrados por cada um dos nove pisos, também anunciou há semanas a chegada de um novo inquilino da área das tecnológicas, a IT Sector. "O Porto Office Park veio colmatar algumas das dificuldades que enfrentávamos para satisfazer os mais exigentes critérios de qualidade de uma certa procura que continua na cidade mesmo neste ano atípico", adianta Mariana Rosa.
"Outra das grandes vantagens que as multinacionais encontram é a grande facilidade de ligações a plataformas de transportes, sobretudo a aeroportos", adianta, por sua vez, Graça Ribeiro da Cunha. A responsável acredita que, "depois de uma queda de ocupação dos espaços físicos verificada de março a junho", a tendência seja para o "retorno da normal utilização" dos edifícios de escritórios, assim estejam reunidas as devidas condições de segurança sanitária. "O teletrabalho irá continuar, mas a um nível bem mais reduzido", aponta a mesma especialista.