As dificuldades atravessaram as iniciativas do quinto dia de campanha da CDU, passado integralmente no distrito de Lisboa e a correr entre quatro ações com Paulo Raimundo, que ouviu os problemas das pessoas e falou também dos seus.
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Queluz, no concelho de Sintra, marcou de manhã o ponto de partida da caravana comunista, onde um idoso deu logo o mote ao secretário-geral do PCP. "Mais vale morrer de pé do que de joelhos", disse o senhor, ao cumprimentar Raimundo, que agradeceu as palavras e seguiu para mais uma arruada a distribuir folhetos da Coligação Democrática Unitária (CDU), beijinhos e apertos de mão.
Com perto de uma centena de pessoas a segui-lo, munidas de bandeiras nas mãos, força nas gargantas e a apertarem-se pelos passeios estreitos, Paulo Raimundo foi entrando rapidamente em várias lojas, mas demorou-se hoje a ouvir algumas histórias de dificuldades pessoais.
Junto a uma paragem, Maria José Rodrigues chora ao queixar-se da Segurança Social não lhe dar a pensão de viuvez após a morte do marido, porque o marido foi naturalizado espanhol, apesar de ter nascido, vivido e morrido em Portugal. O líder comunista ouviu, falou de um caso parecido que conhecia de um camarada de partido e chamou um elemento da comitiva para tomar nota da situação para o futuro.
Mais à frente, outra senhora idosa falou-lhe do aumento das pensões, tema vincado diariamente por Paulo Raimundo nas arruadas e que apontou logo como uma das respostas às dificuldades dos mais velhos. "Mas não é para 2030. É agora, a não ser que a senhora pegue nas contas da luz e mande para 2030. Pode fazer isso? Antes fosse, antes fosse", comentou.
Pouco depois, uma mulher queixa-se de ganhar o salário mínimo há 20 anos, ao que o secretário-geral do PCP se lembrou de recuperar uma expressão já usada pelo líder do PS. "O Pedro Nuno Santos roubou-me a expressão, mas eu não vou abdicar de dizê-la, porque ele até confessou que tinha roubado: é preciso, de facto, um choque salarial no país. E este ano, não é em 2028, 2029 ou 2030. É agora", frisou.
Salário de Raimundo também foi tema
Não há intervenção de Paulo Raimundo nesta campanha sem falar dos salários e hoje até o seu próprio salário veio à baila, admitindo um aumento com a sua eventual eleição enquanto cabeça de lista da CDU por Lisboa, mas sem mudar as dificuldades.
"É verdade, é verdade, mas no PCP os salários dos deputados são os que tinha antes de ir para deputado. Do ponto de vista da minha vida prática, continua exatamente igual: com as mesmas dificuldades. Aquilo que receberei será exatamente o mesmo, com o qual tenho de lidar todos os dias na minha vida hoje. Com muitas exigências, muitas dificuldades e muita criatividade", confidencia.
De tarde, a primeira paragem foi na Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, onde ouviu a diretora Sara Alves enumerar uma longa lista de desafios e constrangimentos, desde a falta de espaço das respostas à população, onde a lista de espera conta mais de 140 pessoas, à falta de dinheiro para poder fazer obras nas instalações.
Ao longo de cerca de uma hora, Raimundo escutou, fez perguntas e admitiu não ter noção de algumas dificuldades básicas, como aqueles utentes não poderem ter passe de transporte. Mas viu também exemplos de formação e integração profissional, com uma sala onde os utentes montavam pequenas peças para usar na eletricidade. "Já sei que é para a eletricidade e não para a água... Já ia rebentando o quadro", graceja, antes de tirar fotos com os utentes e sair.
O relógio da caravana comunista não para e acelera até à zona da Avenida da Liberdade, onde, perante cerca de 200 pessoas, interveio sobre cultura e democracia, num encontro ao qual não faltaram o conselheiro de Estado e ex-candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa, a escritora Ana Margarida Carvalho e o historiador José Neves. "As nossas salas continuam a ser pequenas para as iniciativas que estamos a realizar", avisa, recebendo sorrisos e aplausos.
A jornada de trabalho da caravana da CDU continuou já noite dentro, em Sacavém, com mais um comício. Diante de cerca de 250 apoiantes, apelou aos que sentem "o arrastar dos seus problemas" e avisou: "Não desistimos de nenhum, é com eles que lutamos todos os dias e é com esses todos que vamos construir a alternativa".
E, como em todos os outros dias da campanha, o de hoje só ficou completo com a Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, que foi ouvida em dose dupla, e o hino nacional. As pessoas cantaram, a caravana passa agora para o Alentejo na sexta-feira.