Quem são os eleitores de cada partido? Que idade têm? São ricos ou pobres? Onde vivem? De que partido se transferiram? Respostas que os inquéritos de opinião eleitorais (mais conhecidos por sondagens) também ajudam a esclarecer. Por detrás das projeções de resultados globais escondem-se grandes diferenças.
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Ao longo dos últimos três meses, a Pitagórica fez, para o JN, três barómetros que, somados, ultrapassam os dois mil inquéritos. Fomos observar todos os detalhes e deixamos aqui as conclusões. Sendo certo que, quando se analisam os segmentos de uma amostra (seja a idade, o posicionamento social e o rendimento, ou a região), as margens de erro aumentam consideravelmente.
Os resultados não devem nunca ser vistos como projeções de resultados, apenas como indicadores de tendências. Um último alerta: quanto mais pequeno for um partido, menos fiáveis as leituras. Mas há exceções. Mesmo segmentos diminutos podem revelar uma surpreendente coerência de inquérito para inquérito.
PS
Liderança esmagadora entre eleitores mais velhos
É entre os eleitores mais velhos que se encontra o mais sólido dos bastiões socialistas. Uma tendência que se acentuou ao longo dos últimos três meses, com o crescimento nas sondagens. Em maio, no último barómetro da Pitagórica para o JN, o PS marcava 46,6% no escalão dos 55 aos 64 anos; e 45,9% nos que têm 65 ou mais.
É importante relembrar, no entanto, que os resultados dos diferentes segmentos da amostra se apresentam com percentagens que refletem apenas as intenções diretas de voto, ou seja, sem distribuição proporcional de indecisos.
Ora, na sondagem que divulgamos na semana passada, projetava-se para o PS um resultado de 44,8%. Se aplicássemos a fórmula de distribuição proporcional de indecisos para aquelas duas faixas etárias, os socialistas conseguiriam resultados na ordem dos 50%.
É quase impossível encontrar um ponto fraco no apoio aos socialistas, uma vez que a sua liderança é transversal em todas as faixas etárias e escalões de rendimento. A haver alguma fragilidade, será talvez na distribuição geográfica que se esconde.
O Norte tem sido, ao longo destes últimos três meses, a região que resiste, de forma mais consistente, à tração eleitoral de António Costa: os resultados rondam habitualmente os 30 pontos percentuais e o PSD está sempre por perto.
Um Norte, no entanto, que não inclui o Grande Porto: ao contrário, é nesta zona metropolitana que o PS vai somando os seus melhores resultados: conseguiu 43,9% na última vaga. Em Lisboa, os resultados são um pouco menos exuberantes (37,1%), mas, em compensação, os sociais-democratas ficam a quase 20 pontos de diferença.
PSD
Norte é a única região do país onde não perde por goleada
Quando o principal adversário mostra tanta e continuada pujança, as debilidades do segundo classificado ficam ainda mais expostas. Uma das constantes dos últimos três meses de barómetros é que o PSD perde sempre em todos os segmentos da amostra, seja por um punhado de pontos, seja por um claro KO.
Exceção que confirma a regra: a faixa etária dos 45 aos 54 anos, em que os sociais democratas conseguiram, na sondagem de maio, um rigoroso empate nos 27,5%. Aliás, e a exemplo do PS, é entre os eleitores a partir dos 45 anos que o PSD consegue os seus melhores resultados. Em particular nos dois últimos escalões: quer na faixa dos 55 aos 64 anos, como entre os que têm 65 ou mais anos, conseguiu, nos barómetros de março, abril e maio, resultados sempre acima dos 20 pontos percentuais e aproximou-se várias vezes dos 25 pontos (sem distribuição de indecisos).
Como já se inferia mais acima, o principal bastião do partido liderado por Rui Rio é a região Norte (29,9% na última sondagem), que se tem mostrado mais estável que o Grande Porto: nesta área metropolitana está agora nos 18,4%, quando nos dois meses anteriores marcava cerca de 25 pontos. Ao contrário, em Lisboa, o PSD voltou aos 20 pontos que tinha em março.
Tudo somado, no entanto, estaria agora com um resultado global de 24,1% (projeção com distribuição de indecisos), ou seja, seria o pior resultado de sempre numas eleições legislativas (mais abaixo que Sá Carneiro, em 1976).
CHEGA
Implantação do Norte ao Sul com muita testosterona
O Chega conseguiu o terceiro lugar no barómetro de maio da Pitagórica para o JN, superando o Bloco de Esquerda. É motivo para festejar. Mesmo que os radicais de direita estejam em trajetória descendente (começaram nos 8,1% em março, desceram para os 7,3% em abril, caíram para os 6,4% em maio), são mais cinco pontos percentuais do que o resultado obtido nas legislativas do ano passado. André Ventura, deputado único, pode sonhar com a constituição de um grupo parlamentar.
Essa possibilidade é ainda mais evidente quando se analisa a sua geografia eleitoral. Não é em Lisboa que consegue os melhores resultados, mas é visível nesta região, que inclui o maior círculo eleitoral do país, alguma estabilidade: está agora nos 4,5% (sem distribuição de indecisos), menos um ponto percentual que há um mês, mas igual ao resultado de março. Seria suficiente para eleger pelo menos dois deputados.
Acresce que o Chega mostra, desde março, uma razoável distribuição por todo o país - a exceção é o Grande Porto, com resultados muito díspares de mês para mês - e uma força particular nas regiões Norte (sempre entre 7% e 9%) e Sul (sempre entre 5% e 10%).
A análise das transferências de voto - que compara o voto declarado nas últimas legislativas com as intenções de voto nesta altura - mostra que o Chega cresce sobretudo à custa do eleitorado do PSD e do CDS (e contribui para transformar os centristas num partido marginal), mas também conquista alguns votos à Esquerda (socialistas, bloquistas e comunistas).
Partido marcadamente masculino em todas as sondagens (a proporção é agora de dois eleitores homens para cada mulher), o Chega atravessa todos os escalões etários, com destaque, em maio, para os que têm 35 a 44 anos (10,5%). Os resultados mais fracos são sempre entre os mais novos e os mais velhos.
BE
Indecisão dos bloquistas contribui para as quedas
Indecisão. É provavelmente a maior fraqueza do Bloco de Esquerda e uma das razões para a quebra nos sucessivos barómetros da Pitagórica para o JN. Quando se analisa o voto passado, os eleitores do BE destacam-se sempre pela capacidade de engrossar o contingente dos indecisos: entre 20% e 30% não foram capazes de indicar uma preferência de voto ao longo dos três últimos inquéritos.
O partido liderado por Catarina Martins caiu dos 8,6% (em março) para os 6,1% (em maio), na projeção de resultados, o que naturalmente se reflete em quase todos os segmentos da amostra. Mas há pelo menos uma praça-forte em que está a ser capaz de resistir.
Na região de Lisboa, o Bloco consegue uma intenção direta de voto (sem distribuição de indecisos) superior aos oito pontos percentuais, o que significa que seria capaz de repetir o resultado das legislativas de 2019 no círculo da capital e, portanto, manter os seus cinco deputados.
Ao contrário, no Grande Porto, está em queda, baixando da casa dos oito pontos (compatível com as últimas eleições), para os atuais quatro.
No que diz respeito às faixas etárias, a instabilidade é a norma, com grandes oscilações de mês para mês. Os eleitores entre os 35 e os 44 anos são neste momento o seu principal bastião (8,4% sem distribuição de indecisos). Apesar de estar genericamente em perda, parece afirmar-se a tendência de melhorar um pouco o reconhecimento entre os mais velhos.
CDU
Apesar da instabilidade, Lisboa ainda dá garantias
Os comunistas estão a recuperar de barómetro para barómetro, mas subir umas décimas não chega para voltar ao resultado das últimas legislativas: têm agora uma projeção de 5,8%, contra os 6,3% de outubro. A boa notícia é que, fruto das sucessivas quebras do Chega e do Bloco, estão agora na luta pelo terceiro lugar.
A CDU é um dos partidos em que a análise por segmentos se revela mais escorregadia. Veja-se o fator idade: o escalão mais velho foi, em março e em abril (chegaram aos 7,7%), como já tinha sido em sondagens do ano passado, o abrigo em que os comunistas encontraram a força para resistir. Em maio, no entanto, registam uma quebra considerável (3,6%). E é agora do extremo oposto (eleitores entre 18 e 24 anos) que chega um maior conforto (9,4%).
No ângulo de análise geográfica, aqui sim, um sinal de alguma estabilidade: a região de Lisboa mostra ser a mais resiliente no apoio aos comunistas, com 6,2% (sem distribuição de indecisos). Uma garantia de manter alguma relevância em eleições, uma vez que, como já foi dito, inclui os círculos da capital e de Setúbal, onde a CDU elegeu mais de metade dos seus atuais deputados.
PAN
Estabilidade e um suporte feminino maioritário
O ponto forte do PAN talvez seja a sua grande estabilidade. Talvez não possa ambicionar voos maiores, mas parece estar garantida a relevância que já tem hoje. Ao longo destes três meses de barómetro da Pitagórica, manteve-se sempre em torno aos três pontos. A projeção de maio é igual ao resultado real de outubro passado: 3,3%.
Mas há outros indicadores de alguma estabilidade do Pessoas Animais Natureza. O mais evidente é o cunho feminino: nunca passou dos 1,5 pontos entre os homens, nunca desceu dos 3,5 pontos nas mulheres.
Igual constância no que diz respeito à distribuição pelos escalões etários. Nunca é exatamente igual, uma vez que, quanto mais pequeno o partido, maiores as oscilações em determinados segmentos da amostra, mas é evidente a tendência para ter melhores resultados entre os eleitores dos escalões mais novos, bem como a extrema dificuldade em entrar nos que estão nos dois escalões mais velhos (a partir dos 55 anos).
Finalmente, e a exemplo de outros partidos médios e pequenos, é em Lisboa que o partido de André Silva encontra o porto seguro para eleger deputados: na sondagem de maio ainda mais do que nas duas anteriores, uma vez que marca 5,1% (sem distribuição de indecisos, que aliás na região da capital são em menor número que noutras regiões).
CDS
Eleitores em fuga para o Chega e para os indecisos
O CDS teve o seu pior resultado de sempre em legislativas, com Assunção Cristas (4,2%). Mudou de líder, mas Francisco Rodrigues dos Santos não está a levar a água ao seu moinho: o barómetro mostra uma consistência considerável dos centristas, mas sempre abaixo dos três pontos (são agora 2,8%).
O tamanho diminuto do seu eleitorado (um em cada quatro eleitores de outubro fugiu para o Chega, outro quarto engrossou o número de indecisos), faz com que seja cada vez mais difícil detetar tendências entre os vários segmentos da amostra.
Essa dificuldade é particularmente visível na distribuição geográfica, que ao longo destes três meses de inquéritos se assemelha a um carrossel. Quando muito poderá dizer-se que é habitualmente mais forte nos eleitores de meia idade (agora nos 4,3% entre os que têm 45 a 54 anos).
INICIATIVA LIBERAL
São homens, de Lisboa, com rendimentos elevados
A Iniciativa Liberal é, por enquanto, um partido mais pequeno do que o CDS. Devia por isso ser ainda mais difícil perceber as características do seu eleitorado. Mas não é isso que se passa, uma vez que revela bastante consistência em poucos dos segmentos e uma evidente ausência na maioria.
A sua força está, desde logo, nos eleitores masculinos (sempre em maior número que as mulheres) e nos que residem na região de Lisboa. O que é afinal uma boa notícia, uma vez que é neste círculo que um partido pequeno tem mais hipóteses de eleger deputados. Nesta altura, os liberais de João Cotrim Figueiredo marcam 3,4% em Lisboa (tinham chegado aos 5% em abril, e aos 2,4% em março).
Mas aquilo em que os Liberais se revelam um verdadeiro relógio suíço é no posicionamento social dos seus eleitores: é sempre e quase exclusivamente formado entre os que estão no topo da escala, ou seja, entre os que têm mais rendimentos (4,2% no barómetro da Pitagórica de maio, 4,3% em abril e 3,6% em março).