O presidente da República colocou perguntas a quatro especialistas na reunião desta quinta-feira do Infarmed. Em resposta, Marcelo Rebelo de Sousa ouviu que a vacina deve surgir em janeiro e que os cuidados intensivos estão em "rutura".
Corpo do artigo
13053640
No regresso das reuniões no Infarmed, o chefe de Estado quis saber se faz sentido dividir os concelhos em função do número de infeções (e se haverá um novo pico entre janeiro e fevereiro), se a situação dos cuidados intensivos é preocupante, se é verdade que o grau de contágio no ensino e na restauração é mais baixo do que noutras áreas e, por fim, quando começará a vacinação.
Eis as respostas que obteve:
"Faz sentido graduar" os municípios? E haverá novo pico em janeiro/fevereiro?
A resposta foi dada pelo epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que afirmou não ver "muitas alternativas" à divisão dos concelhos em função do número de casos de covid-19 por 100 mil habitantes. "Há a alternativa de março [confinamento total], mas não queremos isso".
Embora concorde com o escalonamento, Manuel Carmo Gomes alertou que essa divisão deve ser feita "com clareza" e seguindo "indicadores objetivos". Também disse duvidar que os três grupos previstos - um menos grave entre os 240 e os 480 casos, um intermédio entre os 480 e os 960 e um, mais grave, acima de 960 - sejam "os mais adequados".
Carmo Gomes sustentou que há ainda que ter em conta a "aceleração" do número de infeções em cada concelho, a "vizinhança" - isto é, a situação dos municípios adjacentes -, ou as "características" dos surtos - quantos são e se estão controlados. De seguida, é preciso comunicar as decisões à população de forma "percetível".
Sobre a duração das atuais restrições, o especialista não quis arriscar uma estimativa. "Não lhe consigo dizer exatamente onde vamos parar", justificou.
A resposta quanto a um eventual novo pico entre janeiro e fevereiro foi semelhante: "De acordo com as nossas previsões, vamos atingir um pico entre os finais deste mês e inícios do próximo. Se mantivermos a pressão, o R virá para baixo de 1. Se se mantiver aí, a incidência começará a descer". Depois disso, tudo "depende de nós".
"O que pensa quanto à situação de stress nos cuidados intensivos?"
"Estou muito preocupado", respondeu o presidente da Comissão de Resposta em Medicina Intensiva para a covid-19, João Gouveia, recordando que, neste momento, a taxa de ocupação de camas de unidades de cuidados intensivos (UCI) é de 84%.
"Estamos no risco de já não conseguir receber todos os doentes que precisem de medicina intensiva", sustentou João Gouveia. "Podemos chegar às 967 camas, mas com sacrifício da atividade programada e da assistência aos outros doentes. É uma fatura que vamos pagar no futuro".
"Não acho que estejamos em situação de catástrofe ainda, mas estamos já em situação de rutura em muitos sítios", argumentou. No Norte, por exemplo, há UCI "a 113% da sua capacidade".
"Parece" que a taxa de infeção nos estabelecimentos de ensino e na restauração "é menor" do que noutras áreas. É assim?
Henrique de Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, esclareceu que os estudos que desenvolveu apenas dizem respeito ao ensino superior e não às escolas. Nos estabelecimentos que observou, verificou que a taxa de infeção "não aumentava" entre os alunos que assistiam a aulas presenciais.
No que toca à restauração, "os resultados foram semelhantes", afirmou o especialista.
"Para quando o eventual começo da vacinação e por quanto tempo a eventual duração?"
O presidente do Infarmed, Rui Ivo, disse ser "previsível" que possa haver uma autorização para a distribuição de vacinas "logo no início" de 2021.
"Se tudo correr de acordo com aquilo que são os melhores dados neste momento, no início do próximo ano - talvez em janeiro, eventualmente -, podemos ter as primeiras doses de vacina", vaticinou.
Por agora, já está a ser feito o "fabrico de risco" das vacinas, no sentido de possibilitar a distribuição aos países logo que surja a autorização. Rui Ivo alertou, contudo, que começarão por estar disponíveis apenas "algumas quantidades"; estas "não chegarão para vacinar todas as pessoas" numa primeira fase.
O presidente do Infarmed revelou que tem estado a ser feito o "desenho" daqueles que serão os grupos prioritários para a administração da vacina. No verão, disse esperar que já exista um número "muito significativo de pessoas abrangidas pela vacinação".