O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas criticou o discurso do Presidente da República nas comemorações oficiais do 10 de junho, onde recusou estar presente, considerando que "não condiz com a realidade".
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"Quando, ao longo dos anos, e agora particularmente nesta fase final se consagram medidas que vêm afetar terrivelmente os combatentes do presente, não faria sentido nós estarmos numa cerimónia onde se fazem discursos piedosos e depois a realidade desmente essas palavras", afirmou Pereira Cracel aos jornalistas, à margem do 22.º Encontro Nacional de Homenagem aos Combatentes, que decorreu em Lisboa.
Nas comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República considerou que, depois de concluído o processo que levou à aprovação das novas reformas das Forças Armadas, é agora tempo da sua concretização, o que exige flexibilidade, tempo e capacidade de adaptação.
Em causa está o novo Estatuto dos Militares das Forças Armadas, que aumenta a idade da reforma de 65 para 66 anos, a partir de 2016, além de um outro modelo de convocação de militares na reserva para o desempenho de funções, por exemplo, que a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) contesta, razão pela qual não se fez representar nas comemorações oficiais do 10 de junho.
"A realidade não condiz em nada com aquilo que o senhor Presidente da República hoje proferiu em Lamego, e com a prática que tem vindo a desenvolver no que toca aos direitos, à dignidade e até à honra que nós julgamos merecer da parte de quem decide e interfere naquilo que é um pilar fundamental do Estado, que são as Forças Armadas", continuou o presidente da AOFA.
Pereira Cracel sublinhou ainda que a associação "duvida" da "genuinidade de quem hoje, num dia como este, exalta os combatentes do passado, porque a melhor forma de o fazer também é honrar e respeitar a dignidade daqueles que são combatentes do presente".
A associação espera agora que Cavaco Silva "exerça a sua influência para que, na eventualidade de o diploma ou os diplomas virem a ser apreciados na Assembleia da República, e se reponha a injustiça e a equidade que é o que falta neste estatuto, com as medidas que foram implementadas e introduzidas num documento que é trágico para os militares".
Também a Associação Nacional de Sargentos (ANS) recusou o convite para atender às comemorações do 10 de junho, em Lamego.
"Estávamos à espera que o Chefe Supremo das Forças Armadas [Cavaco Silva] fosse nosso comandante, e como comandante das Forças Armadas não estávamos à espera desta atitude", afirmou o presidente da ANS, José Gonçalves, que também marcou presença no Encontro Nacional de Homenagem aos Combatentes.
O Presidente da República "deveria ter tido uma outra atitude e eventualmente chamar as associações, chegar à fala connosco no sentido de esclarecer o que havia de mal, tanto mais que lhe foi pedido diretamente para não promulgar a lei enquanto não fossem ouvidas as associações e as partes envolvidas", acrescentou.
A homenagem aos combatentes foi organizada pela Comissão Executiva para a Homenagem Nacional aos Combatentes e decorreu junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, Lisboa.
A cerimónia contou com uma homenagem às enfermeiras paraquedistas que serviram na Guerra do Ultramar, entre 1961 e 1974 e a homenagem aos mortos com a deposição de flores no monumento.