PS, PCP e BE criticam o discurso "partidário" do Presidente da República em Lamego, por ocasião do 10 de junho. Partidos da maioria elogiam a intervenção de "esperança" de Cavaco Silva.
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O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, criticou o Presidente da República por, na sessão solene comemorativa do Dia de Portugal, ter tido "um discurso totalmente colado" ao do Governo, relativamente à crise e à sua evolução.
Em declarações aos jornalistas à saída do Centro Multiusos de Lamego, onde decorreu a cerimónia, Ferro Rodrigues considerou "compreensível que o senhor Presidente da República, num último discurso do 10 de Junho, queira dar uma ideia de otimismo ao país".
"Já acho menos aceitável que tenha feito um discurso totalmente colado àquilo que é a narrativa da atual coligação de direita sobre a crise, sobre a evolução do pós-crise e sobre a perspetiva futura, sobretudo porque estamos a muitas poucas semanas de eleições", frisou o antigo secretário-geral do PS.
No mesmo sentido, o deputado do PCP António Filipe criticou o discurso "partidário" e de intervenção na campanha eleitoral feito por Cavaco Silva. "Foi absolutamente um discurso colado ao da maioria governamental e um discurso praticamente de intervenção na campanha eleitoral que se aproxima", afirmou António Filipe, em declarações aos jornalistas à saída da sessão solene.
Manifestando-se "chocado" pelo Presidente da República se ter assumido como "um participante ativo nas políticas que têm levado o país à situação que se apresenta" e não como o Presidente de todos os portugueses, o deputado comunista insistiu que se tratou de "um discurso partidário e um discurso de intervenção na campanha eleitoral".
A porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina Martins acusou o Presidente de "lançar a campanha PSD e CDS" no discurso do 10 de junho e de não se dirigir aqueles mais sacrificados com a austeridade.
"Com meio milhão de postos de trabalho destruídos, com salários cortados, pensões cortadas, com pobreza crescente, pobreza infantil crescente, Cavaco Silva não tem uma única palavra para as pessoas que mais sacrificadas foram nestes quatro anos, e pelo contrário, hoje aparece não como um Presidente da República, mas sim Aníbal Cavaco Silva a fazer um discurso para lançar a campanha eleitoral de PSD e CDS", afirmou Catarina Martins aos jornalistas à margem de uma iniciativa na Feira do Livro de Lisboa.
Já o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, considerou que o discurso do Presidente foi um "reconhecimento justo" aos portugueses pela tenacidade demonstrada nos últimos anos.
Questionado pelos jornalistas sobre as críticas feitas pelo PS e pelo PCP de que se tratou de "um discurso totalmente colado" ao Governo e "partidário", Luís Montenegro disse achar "um pouco incompreensível essa consideração".
"Foi um discurso que mostrou um reconhecimento justo, se não mesmo uma gratidão muito justificada ao povo português, às famílias portuguesas e às empresas portuguesas, pela capacidade, pela tenacidade que denotaram ao longo dos últimos anos", afirmou aos jornalistas à saída do Centro Multiusos de Lamego, onde decorreu a cerimónia.
Na sua opinião, os portugueses ultrapassaram "uma situação que era de facto dramática, de emergência financeira, económica e também social".
O discurso "induz também e comporta um apelo ao bom senso das escolhas que o país terá de continuar a fazer no futuro para não desbaratar esse esforço que foi feito ao longo dos últimos anos", acrescentou.
O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, aplaudiu o discurso proferido pelo Presidente, elogiando a intervenção de "esperança" de Cavaco Silva. "Foi um discurso muito adequado ao Dia de Portugal e dos portugueses, ou seja, um discurso mobilizador, um discurso de esperança por parte do Presidente, sem esconder, obviamente, os desafios que também temos pela frente", afirmou o líder da bancada dos democratas-cristãos, Nuno Magalhães.