Atraso das autoridades de saúde nas inspeções às torres apaga rasto da legionela
Muitas limparam as torres de refrigeração antes da análise das entidades de saúde. ARS/Norte assegura que intervenção foi "atempada e ajustada".
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O tempo que as autoridades de saúde levaram para atuar permitiu que muitas empresas limpassem as torres de refrigeração antes da inspeção que seria essencial para determinar a origem do surto de legionela que afetou os concelhos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Matosinhos, infetando 88 pessoas e causando 11 mortes.
A demora terá ajudado a apagar o rasto da bactéria e, dois meses depois do início do surto, ainda não há certezas quanto à origem. Que poderá nunca ser conhecida. As autarquias de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim já pediram uma reunião com a Delegação de Saúde.
A Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte garante que a intervenção "foi atempada e ajustada". Diz que foi preciso fazer a investigação epidemiológica e ambiental, a análise e georreferenciação dos dados, bem como a recolha e avaliação dos ventos, para identificar "os locais considerados como potenciais fontes de infeção". Acrescenta ainda que as primeiras colheitas ambientais foram feitas a 5 novembro.
O JN apurou que essas colheitas efetuaram-se nos hospitais de Matosinhos e da Póvoa de Varzim. Entre o primeiro caso, diagnosticado a 29 de outubro, e a ida das delegações de saúde da Póvoa/Vila do Conde e Matosinhos às empresas e centros comerciais, a partir de 9 de novembro, passou uma semana e meia. Tempo suficiente para que muitas empresas, na zona delimitada - entre o sul de Vila do Conde e o norte de Matosinhos -, procedessem à limpeza das torres. "Em muitas empresas, quando foram feitas as colheitas, havia um cheiro muito intenso a cloro, sinal de que as torres foram limpas", contou ao JN fonte próxima do processo. À medida que o tempo passa e faltam respostas, as certezas quanto à Longa Vida, onde foi detetada a bactéria, são cada vez menos.
sem certezas
"Não há certezas absolutas que o foco tenha estado naquela empresa e as análises a nível da saúde estão concluídas", afirmou a presidente da Câmara de Vila do Conde, em Assembleia Municipal. Elisa Ferraz lembra que há uma investigação do Ministério Público em curso, uma vez que, havendo legionela nas torres, existirá crime ambiental. Mas sem certezas que a estirpe é a mesma que foi encontrada nos doentes, não é possível provar a correlação.
Na sequência das averiguações, a 11 e 12 de novembro foram encerradas as torres da Ramirez e da Longa Vida. A Ramirez deu negativo. A Longa Vida daria positivo a 20, mas, volvido um mês, a correlação continua por provar. As torres ainda estão encerradas.
Contaminação
A 19 e 20 de outubro, a depressão Bárbara criou as condições climatéricas perfeitas para o chamado "efeito cogumelo", que propicia, havendo uma torre contaminada, a proliferação da bactéria da legionela.
Fonte ambiental
O primeiro caso foi detetado a 29 de outubro. Uma semana depois, eram já quase 30 doentes, em três concelhos. A dispersão geográfica e a falta de ligação entre as vítimas era, desde o início, "compatível com uma fonte ambiental", mas só a 9 de novembro começaram as colheitas das entidades de saúde em fábricas e centros comerciais.
Silêncio
O último comunicado emitido pela ARS/Norte é de 29 de novembro. Diz que, desde que suspendeu as torres da Longa Vida, os casos diminuíram e, 14 dias depois - o período de incubação -, deixaram de aparecer. Entretanto passaram 20 dias e aquela entidade continua sem dizer se, comparadas as estirpes da bactéria com as dos doentes, era ou não aquela a fonte.
Presidente da Câmara de Vila do Conde
"Pedimos uma reunião. Não tenho números de infetados, nem sei quantas pessoas de Vila do Conde morreram"
Presidente da Câmara da Póvoa de Varzim
"Não temos dados concretos, nem respostas sobre o assunto. As pessoas querem saber e nós também"