Há hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo com meses de espera para a consulta de profilaxia pré-exposição (PrEP), dificultando o acesso dos utentes a este medicamento que previne a infeção VIH.
Corpo do artigo
A denúncia é do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), que defende o alargamento da dispensa aos cuidados de saúde primários e às organizações de base comunitária, para a PrEP chegar a mais utentes. Este é também um objetivo do programa prioritário do VIH, da Direção-Geral da Saúde, mas continua por concretizar.
"Na região de Lisboa, os serviços estão entupidos, é muito difícil conseguir uma consulta. Há hospitais com demoras de três a seis meses", afirmou, ao JN, Ricardo Fernandes, diretor-executivo do GAT. A organização já reencaminhou mais de dois mil utentes para consultas PrEP, mas a espera tem sido um obstáculo. "Já vimos pessoas que pediram consulta PrEP e enquanto esperavam infetaram-se", referiu.
Curry Cabral melhorou
O JN questionou vários hospitais de Lisboa e Vale do Tejo sobre a espera para esta consulta. Entre os que responderam está o Hospital Garcia de Orta, em Almada, cujo tempo médio de espera é, atualmente, de oito semanas. No Hospital Curry Cabral, até há cerca de dois meses, a consulta externa de PrEP, realizada no Serviço de Doenças Infeciosas, tinha um tempo médio de espera superior a três meses, ainda em consequência das restrições devidas à pandemia. "Atualmente, o serviço já pode dar resposta a novos pedidos no prazo de dez dias", garante o Centro Hospitalar Lisboa Central.
Segundo informação disponível no Portal do SNS, com base em dados de setembro a novembro do ano passado, o tempo médio de espera para esta consulta no Hospital de Santa Maria (Centro Hospitalar Lisboa Norte) era de 175 dias.
No resto do país não há constrangimentos de maior, assegura Ricardo Fernandes, lembrando que é na região de Lisboa que são acompanhadas 60% das infeções VIH de todo o país.
O GAT defende o alargamento da dispensa deste medicamento aos centros de saúde e às organizações de base comunitária, um objetivo partilhado pelo Programa Nacional de Infeções Sexualmente Transmissíveis e VIH da DGS.
No último relatório, o programa reconhece que "o número de pessoas atualmente abrangidas pela PrEP é insuficiente" e assinala que está, em articulação com outras entidades da saúde, "a implementar a dispensa da PrEP em diferentes contextos, nomeadamente em cuidados de saúde primários e OBC, para além dos hospitais, à semelhança do que já acontece noutros países".
Até 31 de dezembro de 2020, 24 hospitais tinham a consulta PrEP e naquele ano 1586 pessoas tiveram, pelo menos, uma consulta.
Distribuição de preservativos abaixo de 2019
No ano passado, foram distribuídos 4,7 milhões de preservativos masculinos (externos) e femininos (internos) e 1,6 milhões de embalagens de gel lubrificante, o que representa um aumento de 20% e de 280%, respetivamente, face a 2021, revela a Direção-Geral da Saúde (DGS), num comunicado a propósito do Dia Internacional do Preservativo, que se assinala hoje.
A DGS realça que os resultados representam "um esforço no sentido de recuperar a resposta em matéria de prevenção", reduzida na pandemia. Em 2021, foram diagnosticados 933 novos casos de infeção por VIH (notificado até 30 de setembro de 2022) e em 92% a transmissão ocorreu por via sexual.
Para o Grupo de Ativistas em Tratamento, a distribuição de preservativos está abaixo de 2019 (5,5 milhões), que já era insuficiente no "país da Europa Ocidental com mais casos de infeção pelo VIH por 100 mil habitantes". Com falta de preservativos e dificuldades no acesso à PrEP, Ricardo Fernandes conclui que "não há uma estratégia de prevenção combinada que permita começar a baixar os casos de VIH pelo lado da prevenção e não só do tratamento".