Centro de rastreio da Abraço, no Porto, abriu consulta de profilaxia pré-exposição em 2021 e já tem mais de cem pessoas a aguardar consulta. Serviço fora dos hospitais é muito procurado.
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No centro de rastreio da Associação Abraço, no Porto, a lista de espera para consultas de profilaxia pré-exposição (PrEP) à infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) já ultrapassa uma centena de pessoas e é preciso aguardar meio ano para se ser atendido. O aumento da procura por métodos preventivos, a preferência por centros mais discretos em vez da consulta nos hospitais e a chegada de imigrantes mais familiarizados com esta terapia ajudam a explicar a situação.
"Se há mecanismos gratuitos para me precaver, porque não?", observa Valdir Coimbra, a iniciar o processo da PrEP na Abraço. O projeto-piloto de consultas de acesso à PrEP em regime descentralizado começou em 2021 e, por agora, está a ser desenvolvido em apenas duas cidades: no Porto, na Associação Abraço, e em Lisboa, no Checkpoint LX.
A profilaxia em causa consiste na toma diária de um medicamento antirretroviral para quem não está infetado com o vírus, mas tem risco de infeção. Estes comprimidos chegaram a Portugal em 2018, mas consultas fora dos hospitais, que começaram em 2021, são eleitas pelo "compromisso de privacidade e anonimato".
No caso de Valdir, não foi isso que o levou até à Abraço. Mas o jovem de 22 anos reconhece que "existe um preconceito e julgamento para quem faz as consultas nos hospitais", e daí a preferência por centros mais discretos.
André Cardoso, enfermeiro naquele centro de rastreio, diz que a PrEP "tem apenas uma desvantagem": o custo. "Cada frasco custa cerca de mil euros, um valor elevado para o nosso Serviço Nacional de Saúde", e dura três meses. Ainda assim, considera: "Se pensarmos na relação custo/benefício, é um investimento que vai, sem dúvida, beneficiar a saúde pública do país".
Pessoas de fora influenciam
Quando a Abraço começou com estas consultas, o tempo de espera estimado era de uma semana. Agora, os interessados têm de esperar quase meio ano. O aumento da procura, na opinião de André Cardoso, "prende-se com o crescimento da diversidade cultural em Portugal". "Temos utentes de comunidades de outros países que já têm um conhecimento mais profundo sobre o medicamento e a sua toma", declarou.
Isso "acaba por influenciar e gerar mais informação sobre o que é a PrEP", acrescenta. E até entre a comunidade clínica falta informação. André Cardoso explica que ainda há muitos médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais da saúde que desconhecem a PrEP. Valdir é um exemplo. Quando pensou em aderir, pediu indicações ao médico de família: "Ele desconhecia, e precisou de uma segunda opinião".
A PrEP ainda é recente no nosso país, mas André Cardoso acredita que este "já está a ser um dos métodos de sucesso que contribui para a redução de infeções".
Consulta multidisciplinar num único local
A PrEP pode prevenir novas infeções em cerca de 90% dos casos. A ideia é que as pessoas tomem um medicamento para evitar uma infeção caso ocorra exposição a doenças sexualmente transmissíveis. A Abraço abriu as consultas de profilaxia pré-exposição em finais de 2021, depois de celebrar acordos com o Hospital de Santo António e com o Hospital de S. João. Além do antirretroviral, os utentes continuam a ter consultas e a fazer análises regulares. A vantagem das consultas descentralizadas é que os utentes têm acesso a vários serviços num único local, como por exemplo acompanhamento psicológico.